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Zbigniew Herbert: o último estoico?

Zbigniew Herbert (1924-1998) é um poeta que nos leva a refletir sobre nossa postura diante da realidade que se nos apresenta.

porLuiz Henrique Budant
23 de julho de 2018
em Literatura
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Zbigniew Herbert: o último estoico?

Imagem: Reprodução.

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Zbigniew Herbert (1924-1998) é muito mais do que apenas um nome complicado. Certamente está entre os maiores poetas poloneses do século XX e, como seu nome, é um poeta muito “polonês” e complicado.

Quem ler Herbert (um caso em que chamar pelo sobrenome facilita sobremaneira), precisará lidar com referências constantes ao mundo clássico e à mitologia clássica. Mas não só. Herbert, para citarmos Wisława Szymborska (1923-2012, sobre quem já tive oportunidade de falar na Escotilha), é um “filho da época / e a época é política” (o poema completo pode ser lido aqui).

Os poemas de Herbert facilmente ganham leituras “políticas”. Porém, creio eu, o grande credo herbertiano está no campo da ética (conquanto entendamos esta complicadíssima palavra como “a melhor vida possível”). Para este grande poeta, a melhor vida possível talvez seja a vida digna.

Mas, oras, onde encontrar dignidade no mundo pós-Auschwitz? Naqueles poemas que considero mais interessantes, Herbert acaba buscando sua almejada dignidade em valores do mundo clássico. E assim apresento às senhoras e aos senhores o Senhor Cogito (cogito ergo sum), encarnação da racionalidade cartesiana que buscará valores que os seus próprios paroxismos destruíram.

No poema intitulado “O Senhor Cogito sobre a postura ereta” (pode ser lido na íntegra aqui), leremos uma descrição dos últimos dias da República Romana:

“os templos da liberdade
foram transformados em mercados de pulgas
o senado está deliberando
como não ser o senado”

O tom de lamento permeia o poema: “o sol da República / se aproxima do ocaso”. Porém, ainda resta ao Cogito uma escolha: como morrer. E Cogito, veremos, permanecerá “ereto à altura das circunstâncias”. Ficará em pé e encarará seu destino. Manterá, pois, a almejada dignidade. Há-se que a manter até o último instante.

A palavra “ereto” (no original wyprostowany) aparece em outro poema essencial do grande poeta, também na voz do Senhor Cogito: “A mensagem do Senhor Cogito”. Neste poema, verdadeiramente um poema-soco-no-estômago, é-nos dado um conselho:

“caminha ereto entre os que ficaram de joelhos
entre os que viraram as costas e foram reduzidos a pó”

E aqui podemos perceber que há uma clara oposição entre “estar ereto” e “estar de joelhos”, oposição que se repete em “O Senhor Cogito sobre a postura ereta”. Comparemos:

“cidadãos
não querem se defender
frequentam cursos intensivos
de cair de joelhos”

E o trecho que ora menciono em sua totalidade:

“O Senhor Cogito
gostaria de permanecer ereto
à altura das circunstâncias
isto é
encarar o destino
diretamente nos olhos”

Como somos todos ‘filhos da época’, resta refletir qual nossa postura diante da época em que vivemos: mantemo-nos à altura das circunstâncias ou, ao contrário, andamos frequentando cursos de cair de joelhos?

A poética herbertiana busca a dignidade na postura ereta, na coragem de enfrentar o que quer que seja: “sê corajoso quando falhe a razão sê corajoso / no final das contas só isto importa”, conforme lemos em “A mensagem do Senhor Cogito” (pode ser lido na íntegra aqui).

Eu falei em dignidade e, aparentemente, a coragem é um dos componentes essenciais desta dignidade herbertiana.

Como somos todos “filhos da época”, resta refletir qual nossa postura diante da época em que vivemos: mantemo-nos à altura das circunstâncias ou, ao contrário, andamos frequentando cursos de cair de joelhos?

Desculpem-me a leitura política e presentista, mas “os bárbaros já estão no jardim”.

Para encerrar, gostaria de agradecer aos tradutores dos poemas citados: Henryk Siewierski (UnB), Piotr Kilanowski (UFPR) e Santiago Naud.

Tags: EstoicismoLiteraturaLiteratura PolonesaPoesiapoesia polonesaSéculo XXSenhor CogitoWislawa SzymborskaZbigniew Herbert

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