Muitas vezes o terror funciona como a reimaginação de uma situação comum que escapa da normalidade conforme a história se desenrola a partir de elementos sobrenaturais ou simplesmente violentos. Várias narrativas do gênero surgem de um simples exercício de “e se…”.
E se o Saci Pererê fosse o capeta? E se o Castelo Rá-tim-bum fosse na verdade um lugar meio amaldiçoado?
Despacho, coletânea com várias histórias em quadrinhos publicada pela Editora Draco, nos traz algumas dessas possibilidades. Composta por roteiristas e desenhistas conhecidos no meio, tais como Fernando Barone, Alessio Esteves, Victor Freundt e Raphael Fernandes, a HQ explora diversos elementos da cultura nacional para compor contos de horror que não economizam muito no banho de sangue.
Seguindo um modelo estilo Creepshow, mas sem aquela caveirinha mala fazendo as piadas, temos aqui diversas histórias de terror que seguem estilos bastante distintos. Temos gente tentando enganar o demônio, lobisomem invadindo fazenda, boneco de pano assassino, gangues urbanas, rituais indígenas, etc.
Composta por roteiristas e desenhistas conhecidos no meio, tais como Fernando Barone, Alessio Esteves, Victor Freundt e Raphael Fernandes, a HQ explora diversos elementos da cultura nacional para compor contos de horror que não economizam muito no banho de sangue.
Por se tratarem de narrativas muito curtas, não dá tempo de desenvolver os personagens, então num geral a ideia é colocá-los em situações-limite imediatamente, sem muita construção de uma atmosfera sombria ou nuances na articulação da narrativa, o esquema é ir direito para o clímax, o que nem sempre funciona em termos de sustos, é claro.
Algumas histórias funcionam bem justamente pela falta de explicações, como em “Segredos”, na qual acompanhamos um grupo de jovens mascarados andando de bicicleta e espancando pessoas. É evidente que há ali uma narrativa muito maior, envolvendo sincretismo e preconceito religioso, bem como uma reorganização da estrutura social, que no fim das contas fica a cargo do leitor imaginar.
A narrativa mais fraca é “Brutalizados no sítio”, que fala sobre um grupo de malucos que sequestram um cara. A história não funciona muito bem, pois aposta em esteriótipos muito batidos, o “monstros” não tem muito propósito e também porque tenta chocar o leitor de maneira meio forçada.
Mas há muitos acertos, principalmente quando os contos apostam na zuera. Em “O Castelo”, temos um corretor de imóveis que vai até um castelo onde aparentemente três crianças desaparecem e é recepcionado não pelo Nino, mas sim por um cara que é a fuça do Alan Moore.
Na melhor história da coletânea, “Investigações Tupiniquins e o caso do bebê-diabo”, ET Bilu e ET de Varginha, junto com seu chupa-cabra de estimação, tentam resolver essa treta do filho do cramunhão, o resultado é hilário. Por mim, bem que poderiam lançar uma HQ mensal só com esses personagens.
Enfim, pra quem cresceu lendo publicações como Calafrio e Cripta do Terror, creio que Despacho funciona muito bem como uma bela visita ao passado, ao mesmo tempo em que aponta para um futuro promissor do terror nacional. Que venham mais histórias.
[box type=”info” align=”” class=”” width=””]DESPACHO
Editora: Draco;
Tamanho: 100 págs.;
Lançamento: Janeiro, 2018.
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