Não são poucos os exemplos na literatura de produtos do homem que tomam vida e, por vezes, se voltam contra o próprio homem, seja no sentido de uma parábola moral dos limites humanos (você não é Deus), seja no sentido de apontar para o progresso desenfreado que pode trazer consequências nefastas.
As distopias estão aí para isso, e quem acha que elas são algo muito atual, precisa se lembrar de 1984, Admirável mundo novo, Nós, e até mesmo de Frankenstein, que foi livremente inspirado por Mary Shelley no mito de Prometeu, e de A máquina do tempo, de H. G. Wells. Porém, a obra de um tcheco sobre o tema presenteou a humanidade com uma palavra que é cada vez mais importante: robô.
As distopias estão aí para isso, e quem acha que elas são algo muito atual, precisa se lembrar de 1984, Admirável mundo novo, Nós, e até mesmo de Frankenstein, que foi livremente inspirado por Mary Shelley no mito de Prometeu.
A fábrica de robôs, em tradução do tcheco de Vera Machac, é uma peça satírica escrita por Karel Tchápek (ou Čapek como também é grafado por aqui, 1890–1938). Quando pensamos em autor tcheco, logo nos vem à mente Milan Kundera e Kafka, mas há um mundo imenso e delicioso na literatura tcheca e do leste europeu que poucas editoras exploram de verdade. Então, precisamos aproveitar essas que trazem a nós um pouco dessa literatura e desse pensamento tão rico.
A peça
No mundo distópico criado por Tchápek, o doutor Rossum consegue criar uma máquina muito semelhante ao homem, porém desprovida de sentimentos, criatividade e sensações, a qual ele dá o nome de robô (palavra derivada de vocábulos eslavos que remetem a trabalho físico e escravidão), palavra utilizada pela primeiríssima vez nessa obra com o sentido de autômato e depois incorporada por praticamente todos os idiomas.
A produção desenfreada de robôs para livrar o homem do trabalho braçal e mecânico leva a uma crise que seria o vislumbre do ocaso da humanidade. O excelente ensaio/biografia feita por Aleksander Jovanović, também tradutor do tcheco, comenta a reação dos robôs aos seus criadores/algozes humanos: “a racionalização absoluta e a desumanização podem conduzir somente à revolta, à libertação dos grilhões e à aniquilação dos opressores (…)”. Texto criado no entreguerras, período no qual diversas correntes e tendências fascistas e ditatoriais já se mostravam fortes na Europa, “constitui um alerta contra os fundamentalismos ideológicos que, logo mais, se abateriam sobre o mundo (…)”.
A história bem contada nos três atos também explora o machismo, as relações humanas deturpadas por interesses e a ganância do homem por fama, posição social e bens materiais. A visão de Tchápek sobre a sociedade de consumo que florescia deve ter sido encarada com certo desdém pelo grande público, contudo, incomodou não apenas os círculos sociais da época, mas também os nazistas.
Karel Tchápek morreu pouco depois do início da Segunda Guerra Mundial, mas seu irmão, Josef, infelizmente sofreu as agruras do período. Os Tchápek eram contrários a toda forma de autoritarismo e, quando os nazistas invadiram a Tchecoslováquia, sua casa fora o primeiro alvo da polícia política.
Agora já sabemos a quem agradecer quando usarmos a palavra robô.
A FÁBRICA DE ROBÔS | Karel Tchápek
Editora: Hedra;
Tradução: Vera Machac;
Tamanho: 148 págs.;
Lançamento: Junho, 2012.
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Originalmente publicado no blog do colunista e editado para publicação aqui.