As Boas Mulheres da China é uma obra de não-ficção publicada em 2003 pela jornalista chinesa Xinran Xue que, entre os anos 1989 e 1997, entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais para compreender a condição feminina no fim do século XX na China. Seu programa de rádio, Palavras na Brisa Noturna, discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar e incomodou o suficiente para obrigar a radialista a se mudar para Londres, onde pôde publicar os dilacerantes relatos presentes nesta obra.
Ao longo de quinze capítulos, a autora se dedica a contar histórias – incluindo a sua própria – de abuso, humilhação, estupro, discriminação, abandono, submissão e descaso. São relatos tristes e singelos que refletem uma sociedade chinesa conservadora e extremamente patriarcal. Casos como o de Hongxue, que, privada de qualquer forma de carinho, encontra afago nas patas de uma mosca; como o das mães que perderam seus filhos no terremoto e juntas criaram um orfanato para abrigar outras crianças; como o de Hua’er, violentada em nome da “reeducação” promovida pela Revolução Cultural; ou o das mulheres da Colina dos Gritos que, mesmo vivendo em condições inimagináveis para a maioria das pessoas, se consideram felizes. Todos relatos escritos por Xinran de maneira fiel e livre de estereótipos, rompendo barreiras e transmitindo para os leitores do Ocidente a realidade chinesa da época.
Revolução Cultural
Com uma narrativa sensível e humanista, Xinran confere ao seu trabalho um tom universal que permite a reflexão do leitor sobre as condições às quais muitas mulheres são submetidas em nome do tradicionalismo das normas sociais.
Essas experiências e percepções formam um retrato tocante da figura feminina durante os 10 anos da Revolução Cultural (1966-1976) que devastou o país, reverteu a moral dos habitantes e mergulhou a nação em uma situação precária, sem recursos sequer de comunicação interna. As notícias, mesmo as más, corriam vagarosamente da população ao estado. Milhares de pessoas foram silenciosamente torturadas e mortas por oposição às ideias do Partido. Segundo Xinran, nos danos causados à sociedade chinesa, deve-se incluir os danos aos instintos sexuais normais, que foram mais perversos para as mulheres.
Sem dúvida, As Boas Mulheres da China é um livro capaz de despertar empatia em qualquer pessoa que se disponha a lê-lo. E, apesar de remeter a uma cultura essencialmente diferente da nossa, a narrativa sensível e humanista de Xinran confere ao seu trabalho um tom universal que permite a reflexão do leitor sobre as condições às quais muitas mulheres são submetidas em nome do tradicionalismo das normas sociais.
AS BOAS MULHERES DA CHINA | Xinran Xue
Editora: Companhia de Bolso;
Tradução: Manoel Paulo Ferreira;
Tamanho: 256 págs;
Lançamento: Julho, 2007.