Quando o romance Bonjour Tristesse foi lançado em 1954, na França, a autora contava então com 18 anos. Era a estreia literária de Françoise Sagan (1935 – 2004). Em pouco tempo, o livro se tornou um grande sucesso, sendo adaptado para o cinema em 1958 pelo diretor austríaco Otto Preminger e traduzido para mais de vinte idiomas. Amiga do filósofo e escritor Jean-Paul Sartre, Sagan foi associada ao existencialismo por seu estilo de vida boêmio e pouco convencional para os padrões da época. Com sua postura transgressora e perfil de enfant terrible, Françoise Sagan também se envolveu em polêmicas e escândalos, como as condenações por posse de cocaína nos anos 90 e por fraude fiscal em 2002. Ao longo de sua carreira, escreveu romances, roteiros de cinema e peças de teatro.
Bom Dia, Tristeza é narrado em primeira pessoa por Cécile, uma garota de 17 anos que aproveita as férias de verão no litoral sul da França. O romance tem como cenário de fundo o mar mediterrâneo, onde as ações se desenrolam entre praias, cassinos e pousadas de verão. Órfã de mãe, Cécile é acompanhada por seu pai, o galanteador Raymond, e por Elsa, sua jovem amante.
Em meio a esse clima de descontração a narradora inicia um relato direto e conciso, com frases curtas e cadenciadas, explorando a dimensão psicológica de si e dos outros personagens que compõem a narrativa.
Cécile leva uma vida confortável e semidesregrada ao lado do pai, bebendo e fumando exageradamente. Enquanto desfruta as praias da região, conhece Cyril, um jovem de vinte e seis anos, estudante de Direito. Livre de cobranças e responsabilidades, a protagonista aproveita sua liberdade para explorar novas sensações e descobrir sentimentos como o desejo, a paixão, o amor. “O gosto pelo prazer, pela felicidade, representa o único lado coerente de minha personalidade” (P. 20). Essa liberdade, porém, se vê ameaçada com a chegada inesperada de uma terceira pessoa, Anne Larsen, uma estilista parisiense que fora amiga de sua mãe.
Desejo, traição e remorso
A chegada de Anne Larsen instaura o primeiro conflito da trama. Cécile teme a incompatibilidade de ideias entre Anne e Elsa e calcula as consequências desse encontro imprevisto. Na visão da narradora, elas representam personalidades opostas e conflitantes. Elsa Mackenbourg exibe traços de frivolidade e encarna o perfil da femme fatale, enquanto Anne, 13 anos mais velha que Elsa, é uma profissional de sucesso, culta e sofisticada. Para Cécile, essa diferença de personalidades coloca em risco a tranquilidade daquele doce idílio.
Certa vez, Raymond decide passar uma noite em Cannes, na companhia de Cécile, Elsa e Anne. Logo na chegada, ele desaparece com Anne, deixando Elsa com crises de ciúme. Penalizada pelo estado de Elsa, Cécile decide sair em busca do pai, que é flagrado no estacionamento do cassino, em companhia de Anne. Após uma discussão, Raymond e Anne decidem retornar juntos para a pousada, deixando Cécile voltar com Elsa. Desapontada com a atitude de Raymond, Elsa resolve regressar sozinha e não retorna para a pousada onde estavam hospedados.
Após o retorno, Anne e Raymond anunciam seu casamento, levando a protagonista a um estado de pânico. O que preocupa Cécile é o estilo de vida de Anne, que representa uma ameaça aos seus hábitos e à liberdade que goza ao lado do pai. “Era absolutamente indispensável sacudir-me, reencontrar meu pai e a vida de outrora” (p. 47). Para isso, coloca em prática um plano de coloração maquiavélica para impedir o casamento entre Anne e Raymond.
O plano assume rumos inesperados, excedendo todas as expectativas e lançando Cécile em um profundo sentimento de remorso e melancolia em consequência de seus atos. Desse modo, o remorso e a culpa sentidos pela narradora no desfecho da trama é o preço pago por um desejo ilimitado de prazer e liberdade, o fruto colhido de um plano arquitetado por ela mesma, sem medir ou vislumbrar suas trágicas consequências. Bom Dia, Tristeza, as últimas palavras enunciadas pela narradora ao amanhecer, é também um verso do poema La vie Immédiate, de Paul Éluard, presente como epígrafe do romance.
BOM DIA, TRISTEZA | Françoise Sagan
Editora: BestSeller;
Tradução: Sieni Maria Campos;
Tamanho: 112 págs.;
Lançamento: Agosto, 2007.