Vou escrever sobre política. Por favor, não torça o nariz. É sobre literatura, também. Essas duas podem, pasme, caminhar juntas. O ano de 2014 terminou com o Brasil polarizado. Azul e vermelho, para alguns. Pobre e rico, para outros. Inteligentes e não tanto, para mais gente. Direita e esquerda para os ideológicos.
A verdade é que desde o ano anterior, o país experimentava a sensação de conviver com movimentos populares em maiores proporções (ou saídos do papel), ao contrário do que ocorria antes. Os resmungos daqui e dali não apareciam, nem ecoavam. Passaram, então, às ruas. As razões eram diferentes para cada ação. Às vezes, parecidas. Em muitas ocasiões, era mais de um motivo. Poderia faltar organização no tema e na ação – houve vandalismo, disseram. O clima esquentou.
Um dos responsáveis pelo resultado das eleições de 2014, que ajudou na construção da candidata vencedora, Dilma Rousseff, é o biografado em João Santana – Um marqueteiro no poder, do jornalista Luiz Maklouf Carvalho, e lançado neste ano pela editora Record. A obra é curta, tem 235 páginas e uma entrevista exclusiva, que tem como tema a eleição do ano passado, dividida em duas partes – uma no início, outra no fim. No recheio, estão histórias sobre um dos homens de confiança da presidente e o que levou o jornalista à carreira pela qual se tornou reconhecido.
Carvalho se sentou com Santana duas vezes para entrevistas realizadas pessoalmente. Uma em 24 de agosto e outra em 10 de setembro de 2013. Também conversou por algumas vezes com o marqueteiro, via e-mail. Foi também por correio eletrônico que o autor conseguiu tirar de seu perfilado algumas considerações sobre a campanha de 2014, em novembro daquele ano, depois de sua, por assim dizer, vitória.
Preferências políticas à parte, a leitura é importante. João Santana elegeu seis presidentes, não apenas no Brasil.
A trajetória de João Santana começou em Tucano, na Bahia, sua cidade natal. Aos que acreditam em predestinação, a coincidência será ignorada. Até se tornar o braço direito do ex-presidente Lula, Santana teve uma carreira, digamos, artística. Levou o apelido de Patinhas no colégio, por conduzir com rigor a tesouraria do grêmio estudantil. Neste posto, em Salvador, cidade para onde se mudou, o então tesoureiro cresceu e conheceu parceiros para noitadas, divertimentos e música.
Em sua caminhada, João Santana foi compositor, repórter (vencedor do Prêmio Esso), secretário de Comunicação e, na mais popular de suas funções ao longo da vida, o mentor por trás de Lula e Dilma.
Preferências políticas à parte, a leitura é importante. João Santana elegeu seis presidentes, não apenas no Brasil. Trabalhou em países da América Latina e sua experiência no marketing político rende boas histórias.
Neste momento, o Brasil vive um claro momento de revolta. Reclamações e insatisfações. Gosta? Não. O que quer? Não é isso. Mas é o que? Não sei. Falta um rumo a quem protesta nas ruas e a quem apenas boqueja enquanto assiste ao Jornal Nacional. A aparente insatisfação é a mesma, embora as ações sejam diferentes.
Em João Santana – Um Marqueteiro no Poder, é possível se tornar um pouco mais íntimo da mente que construiu a imagem dos últimos presidentes do Brasil. É boa? É ruim? Não importa. A leitura é uma oportunidade de imersão aos que gostam do tema e apresentação aos que têm aversão à política – o que, diga-se, se tornou impraticável nos dias de hoje.
Destaco aqui o trabalho minucioso e persistente de Luiz Maklouf Carvalho. Com a insistência para garantir as entrevistas (pessoais e online) com João Santana, a busca por informações, as pesquisas detalhadas da vida do personagem.
Vale a leitura, rápida, concisa e atual de trabalho jornalístico e literário de qualidade.
JOÃO SANTANA: UM MARQUETEIRO NO PODER | Luiz Maklouf Carvalho
Editora: Record;
Tamanho: 252 págs.;
Lançamento: Janeiro, 2015.
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