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‘Nós dois sozinhos no éter’ aposta em premissa perigosa para falar de amor

Em ‘Nós dois sozinhos no éter’, sua nova obra, Olivie Blake compartilha a história de amor entre dois desencaixados em Chicago.

porMaura Martins
8 de dezembro de 2023
em Literatura
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Olivie Blake. Imagem: Divulgação.

Olivie Blake. Imagem: Divulgação.

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Nova obra de Olivie Blake (escritora americana que adquiriu fama após seu livro Sociedade de Atlas viralizar no TikTok), Nós dois sozinhos no éter (editora Intrínseca, 2023; tradução de Carlos César da Silva), é mais uma obra sobre dois sujeitos que, por uma obra do acaso ou do destino, depois que se conhecem, não conseguem mais ficar longe um do outro. E há outra premissa no livro que tem se tornado bastante regular na literatura: ambos são estranhos e desajustados, e encontram um no outro uma possibilidade de pertencimento.

Aldo Damiani é um matemático teórico que tem dificuldade de lidar com mudanças, e que, com a ajuda do pai, constrói uma série de rotinas e protocolos para evitar que sua mente entre em estado de perturbação (há alguma sugestão do espectro autista, embora isso nunca seja esclarecido).

Um dia, em um dos seus passeios regulares no Instituto de Arte de Chicago, Aldo cruza com uma guia que chama sua atenção. É Charlotte Regan, uma jovem que, logo descobrimos, é altamente imprevisível. Na verdade, seu trabalho no museu, de forma voluntária, é apenas uma estratégia de sua psiquiatra e de seus pais para que ela não saia na linha e cause mais estragos – Regan (como prefere ser chamada) já teve problemas sérios com a polícia por ser uma falsificadora de arte.

O que sabemos a seguir é que Regan tem transtorno bipolar, e seus pais, aparentemente, já não têm muita paciência para lidar com ela. Eles são descritos como esnobes poucos afetuosos, que, como cobrança em relação aos transtornos que ela causa, exigem que a filha pelo menos esteja presente em seus eventos sociais.

Regan namora Marc, um homem meio blasé que parece ter as chaves para “gerir” a namorada sem maiores problemas. Mas, ao cruzar com o esquisitão Aldo, que não parece ser qualquer ameaça ao seu namorado descolado, ela descobre aos poucos que quer mais. E talvez não seja mais de um relacionamento em si: ela quer mais dela mesma, pois sente ter sua personalidade tolhida pelos remédios que consome.

Um retrato honesto sobre os transtornos mentais

A escritora americana Olivie Blake. Imagem: Divulgação.

Olivie Blake expressa de maneira muito franca a tristeza em sentir a personalidade se esvaindo por conta de um medicamento.

Nós dois sozinhos no éter tem como um dos seus trunfos a forma original com que Olivie Blake (cujo nome rela é Alexene Farol Follmuth) tenta compartilhar a história. Há uma espécie de metanarrativa, intercalando cenas e anotações (como se fosse um roteiro) que se apresentam no início do livro, mas é esquecida logo nos capítulos sequentes. E há a remissão à figura da abelha, que se repete na fixação de Aldo por hexágonos, que seriam a forma perfeita – e que, talvez, explicite um esforço de gerar um avatar para um possível fandom do livro.

Quando um autor/ autora se torna famoso por viralizar no TikTok, por óbvio que há desconfianças sobre a sua qualidade. Contudo, Olivie Blake encontra seu brilho por uma razão específica, que envolve o conhecimento colateral com sua história: ela mesma é acometida pelo transtorno bipolar. Embora não haja qualquer garantia de que ser portador de um transtorno mental torne alguém um bom escritor, em Nós dois sozinhos no éter Blake parece ter encontrado uma voz honesta e cheia de credibilidade para construir a sua Regan.

Ou seja, a obra consegue se mostrar tocante e transparente quanto aos sofrimentos enfrentados por estas pessoas, que vivem permanentemente em uma espécie de gangorra emocional – cujo ponto alto, na experiência maníaca, lembra a do vício em cocaína, conforme esclarecido em certo momento por Regan – em que a queda é sempre traumática.

Mas, mais do que isso, Olivie Blake é capaz de expressar de maneira muito franca a tristeza que há em sentir o que seria a personalidade se esvaindo por conta dos efeitos químicos do medicamento que controla o seu humor.

De maneira inspirada, Regan descreve para Aldo que a sua sensação psíquica ao estar com seus remédios em dia é a de ter um telhado que foi remendado, mas com calhas ainda rachadas. Questionada sobre como era antes, ela diz: “água por toda parte. Não chegava a ser uma inundação, só uma goteira incessante em algum lugar impossível de localizar. Sempre uns três graus mais frio do que eu preferia”.

O fato é que a autora, querendo ou não, pisa em terreno perigoso com sua personagem quando ela decide abrir mão dos seus remédios para poder se sentir viva novamente. E não é de se esperar aqui alguma história de lição de moral, de uma pessoa que larga os medicamentos, se dá mal e volta a tomá-los. Muito longe disso.

A julgar que este é possivelmente um livro voltado à geração Z (que está apresentando sintomas de doenças mentais cada vez mais cedo), pode parecer algo irresponsável. Mas também corajoso, o que tira a suspeita de que Olivie Blake pudesse apenas ter se restringido a uma literatura formulaica e insossa.

De fato, Regan e Aldo, em sua construção cheia de falhas e afeto, conseguem nos conquistar com sua experiência torta – mas real – do amor. Como lemos em certo trecho da obra: “Aldo não disse (…) que estava aterrorizado, que agora entendia o que significava amar algo. Que amar alguém era renunciar à necessidade de impor limites e, por isso, amar era existir sob uma ameaça constante e paralisante”.

Nós Dois Sozinhos no Éter | Olivie Blake

Editora: Intrínseca;
Tradução: Carlos César da Silva;
Tamanho: 336 págs.;
Lançamento: Agosto, 2023.

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Tags: booktokCarlos César da SilvaIntrínsecaLiteraturaNós dois sozinhos no éterOlivie Blake

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