Saltos e acrobacias apresentados para o público, que salta de seu cotidiano em direção à arquibancada e só quer se entreter; mas para os artistas circenses, as manobras expostas talvez sejam as partes mais simples de um longo processo em que um movimento errado compromete o espetáculo interno.
Quem se importa com os pormenores dos saltitantes protagonistas, além deles, é o escritor Mario Filipe Cavalcanti, autor da seleta de contos O Circo, publicada pela coleção Novos Talentos, da Editora UFPE. Antes das narrativas começarem, lê-se na dedicatória: “Para os palhaços, suas roupas cheias de lantejoulas e miçangas e cores e…, e…, devo confessar: morria de medo de vocês quando criança!”. A confissão divertiria os integrantes deste Circo, cujo palco é um desfile de gente às vezes encontrada ao mero acaso, sem ter sequer um familiar perto ou um colchão velho onde dormir; mas o medo seria entendido por completo, sentimento tão íntimo de alguns quanto o ar detrás de si durante um salto.
E se não ele, talvez uma dose de ingenuidade para uma dupla do conto “Os Trapezistas”, uma dupla de um vínculo simples e até inocente para os próprios olhos, eles apenas faziam seus números e nada mais, não se preocupavam com a tal “mola do mundo” (se é que isso existe), como um deles ouviu enquanto crescia, nem com maldade, apenas viviam grudados.
Sua duração pode incomodar algum leitor que deseje narrações mais longas, pois o livro mal tem 100 páginas, mas talvez essa brevidade tenha sido proposital.
Ou como em “O Mímico”, conto de uma parceria interrompida por um gesto que na interpretação de um deles era pior do que uma provocação, quase uma invasão de território, embora tão frágil quanto seus contornos e seu suposto dono.
O mais carrasco da equipe do picadeiro poderia rir de tudo isso e afirmar, cínica e honestamente, que alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo – ainda que deseje fingir não fazer parte dele quando isso acontecer. E até fazer da própria desgraça um número privado, despido das maquiagens e cuidados extras praticados quando se apresenta para o público geral. Os contos de O Circo fluem rápido graças à escrita imediata focada nas ações dos personagens, com explicações quase secundárias de tão sucintas, buscando um ritmo veloz, mas o suficiente para perceber de onde os personagens pulam. Sua duração pode incomodar algum leitor que deseje narrações mais longas, pois o livro mal tem 100 páginas, mas talvez essa brevidade tenha sido proposital, simbolizando quão efêmeras podem ser todas as coisas.