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‘Paris é uma festa’: Hemingway nos bastidores da literatura

Em 'Paris é uma festa', Ernest Hemingway conta diversas histórias a respeito de suas andanças em Paris na década de 1920.

porEder Alex
22 de novembro de 2017
em Literatura
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'Paris é uma festa': Hemingway nos bastidores da literatura

Imagem: Reprodução.

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Não sei você, mas eu me senti um pouco iludido pelo título do livro. Não que eu tenha sido enganado ou coisa que o valha, mas veja bem, é no mínimo estranho que um livro chamado Paris é uma festa não tenha nenhuma festa. Sério, pode reler aí pra confirmar que tem um total de zero baladas, orgias ou raves.

Mas por outro lado tem Paris pra caralho, então acho que ok.

O escritor norte-americano Ernest Hemingway, reconhecido como um dos pilares da literatura, escreve aqui uma série de crônicas memorialísticas que contemplam um período em que passou na França, na década de 1920, escrevendo em botecos e cafés e convivendo com um monte de gente famosa que também passava uns tempos por lá, neste período de invejável efervescência cultural.

Pra quem assistiu a Meia-Noite em Paris, do Woody Allen, fica até meio difícil não associar com o livro, já que ele evidentemente serviu de base para o cineasta nova-iorquino. O clima e os personagens são bem aqueles, só que sem tanta festa, como já foi dito. Era mais um lance de encher a cara e falar mal dos outros num boteco.

E por falar em falar mal dos outros, Hemingway mostra-se o maior fofoqueiro da paróquia e, em alguns momentos que nos remetem a uma espécie de revista Caras versão literária, ele sai revelando intimidades constrangedoras e detonando uma galera ao longo do livro. Um dos alvos mais frequentes é a escritora Gertrude Stein, com quem ele estabeleceu uma amizade de aproximadamente quatro anos que foi azedando aos poucos.

Sob o ponto de vista de Hemingway, Stein não aparece de uma maneira muito lisonjeira. Embora o autor reforce algumas vezes que a respeita e admira, não economiza palavras para sugerir que a visão crítica dela é baseada num jogo de toma lá dá cá, do tipo “você elogia o meu livro e eu elogio o seu”. Fora isso, fica clara a intenção de apresentá-la com uma pessoa repulsiva, como quando ela faz comentários preconceituosos e bem ofensivos contra homossexuais.

A visão romântica do autor à mesa de um café parisiense escrevendo uma obra-prima é bem forte, bem como a presença de figuras ilustres, como James Joyce, com quem Hemingway troca uma ideia a certa altura do livro.

Hemingway não é exatamente um cara que amava as mulheres, afinal quase todas que aparecem no livro são retratadas de forma depreciativa ou caricata. Além de Stein, a escritora Zelda Fitzgerald também não surge no livro de uma forma positiva, já que acaba sendo reduzida a uma bêbada maluca que só prejudica o seu marido Scott (autor de O Grande Gatsby). A própria mulher de Hemingway é retratada de forma sempre apática e unidimensional, não merecendo mais destaque do que o de uma mera caricatura de dona de casa.

Por outro lado, o fascínio do autor pela cidade rende momentos excelentes, como no famoso texto em que ele dá dicas de rotas turísticas em Paris para pessoas que estejam passando fome. Não se tratam de dicas para comer barato, mas sim de passar por lugares que simplesmente não vendem comida.

Há também diversas reflexões a respeito da literatura e da arte de escrever. Hemingway era extremamente comprometido com o seu trabalho e poder lê-lo falando sobre o seu ofício é uma das melhores oportunidades que esta obra proporciona. Em um trecho particularmente interessante, o autor explica que buscava aprender a escrever de forma mais direta, evitando firulas linguísticas, indo ao museu para ver as pinturas de Paul Cézanne. Aliás, as artes plásticas se fazem bastante presente ao longo do livro.

Paris é uma festa é uma espécie de mergulho nos bastidores da literatura e da arte em geral. A visão romântica do autor à mesa de um café parisiense escrevendo uma obra-prima é bem forte, bem como a presença de figuras ilustres, como James Joyce, com quem Hemingway troca uma ideia a certa altura do livro.

Alguns momentos são bem poéticos, como quando o autor fala de seu fascínio pela primavera: “Quando as chuvas frias continuavam durante longo tempo e acabavam matando a primavera, era como se um jovem tivesse morrido à toa”. Já outras situações são bem curiosas, como quando ele faz comentários a respeito de Dostoiévski: “Como é possível alguém escrever tão mal, tão incrivelmente mal, e ainda assim comunicar tanta emoção a quem lê?”. Essa linguagem num tom mais direto predomina ao longo de toda a obra.

Boa parte do terço final do livro é dedicado à amizade com Scott Fitzgerald. Há inclusive um capítulo todo dedicado ao pinto do escritor (é sério), naquilo que parece ser os primórdios da comédia American Pie. O autor descreve como eles se conheceram e também narra uma viagem maluca que fizeram juntos. Sob o olhar de Hemingway, Fitzgerald parece um sujeito instável emocionalmente e extremamente talentoso, mas que sabota esse talento consumindo álcool de forma absolutamente descontrolada. Fica aquela sensação de pesar, de que o amigo poderia ter escrito muito mais livros incríveis, caso não tivesse perdido a batalha para a bebida.

Enfim, Paris é uma festa é um livro bem curioso e rápido de ser lido. Neste sentido, creio que seja uma boa porta de entrada para o universo de um dos escritores mais respeitados da literatura mundial.

PARIS É UMA FESTA | Ernest Hemingway

Editora: Bertrand Brasil;
Tradução: Ênio Silveira;
Tamanho: 252 págs.;
Lançamento: Outubro, 2013 (atual edição).

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Tags: alcoolismoBertrand BrasilClássicoCríticaCrítica LiteráriaCrônicaDécadaErnest HemingwayGertrude SteinlembrançaLiteratura AmericanamemóriaParisParis É Uma FestaResenhaReviewScott FitzgeraldZelda Fitzgerald

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