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O hiper-romance de Italo Calvino em ‘Se um viajante numa noite de inverno’

'Se um viajante numa noite de inverno' revela uma estrutura de desdobramentos quase infinitos numa história de amor pela literatura.

porArthur Marchetto
29 de novembro de 2018
em Literatura
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O hiper-romance de Italo Calvino em ‘Se um viajante numa noite de inverno’

Imagem: Reprodução.

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Imagine que depois de ler essa resenha você resolva comprar Se um viajante numa noite de inverno, de Italo Calvino. Quem sabe, você já tem o livro e se empolgue em bater o pó e começar a leitura. Você se aconchega no seu lugar de leitura – pode ser no ônibus, na cama ou numa poltrona, encontra um lugar bem iluminado (ou acende a luz de seu e-reader. É possível.) e dá início à leitura. Você, Leitor ou Leitora, percorre as linhas de um primeiro capítulo instigante, mas, ao virar a página para o segundo, percebe um erro de impressão: todas as páginas restantes são repetições das primeiras.

Qual seria sua reação frente à leitura interrompida no momento de maior tensão? É a partir das respostas que surgem desse problema que Calvino monta e nos leva no enredo de um de seus últimos livros, Se um viajante numa noite de inverno, publicado em 1979. Numa narrativa em segunda pessoa (logo, falando com você), acompanhamos a vida de um Leitor e de uma Leitora que tentam de diversas maneiras terminar a leitura de um livro, mas acabam presos a uma complexa trama onde o amor à literatura em um mundo moderno e fragmentado é evidenciado.

Calvino começa o romance da seguinte maneira: “você vai começar a ler o novo romance de Italo Calvino, Se um viajante numa noite de inverno. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Deixe que o mundo a sua volta se dissolva no indefinido. É melhor fechar a porta; o outro lado há sempre um televisor ligado. Diga logo aos outros: “Não, não quero ver televisão! Não quero ser perturbado!”. Com todo aquele barulho, talvez ainda não o tenham ouvido; fale mais alto, grite: “Estou começando a ler o novo romance de Italo Calvino!”. Se preferir, não diga nada; tomara que o deixem em paz”.

A partir daí, acompanhamos em retrospecto o caminho do leitor pela livraria e suas estantes – como as chamadas “Livros Que Há Tempos Você Pretende Ler” ou “Livros Que Todo Mundo Leu E É Como Se Você Também Os Tivesse Lido”. Depois de pagar pela compra do livro, que estava na seção “Novidades Em Que O Autor Ou O Tema São Atraentes”, e ler o primeiro capítulo, você descobre que a edição está defeituosa e o primeiro capítulo se repete até o fim do livro.

Você volta até a livraria, reclama com o livreiro, encontra uma Leitora que passa pelo mesmo problema e descobre que o capítulo, na verdade, não se refere nem ao primeiro capítulo do livro de Calvino, mas ao livro de um polonês. Curioso, você resolve continuar a leitura desta história, cujo livro se chama Fora do povoado de Malbork.

Calvino monta em seu ‘hiper-romance’ uma narrativa onde o acaso atua de maneira forte na trajetória do Leitor e ainda permite que os significados decorrentes da continuidade dos capítulos e de suas conexões se desdobrem de acordo com os leitores.

Você troca seu exemplar de Se um viajante numa noite de inverno por esta edição e começa a leitura. O primeiro capítulo, no entanto, não é o mesmo que você leu – tão envolvente quanto, mas com um estilo completamente diferente. Não faz mal, a história te envolve do mesmo jeito e a leitura flui… até que, findado o primeiro capítulo, você encontra uma porção de páginas em branco e precisa interromper sua leitura novamente.

Rapidamente, você liga para sua nova amiga, a Leitora, e juntos vocês descobrem que o segundo livro, na verdade, diz respeito à uma história escrita em cimério, uma língua morta, e chama-se Debruçando-se na costa escarpada. Vocês marcam uma reunião com o professor especializado nessa língua em busca da continuação da história, que será novamente interrompida.

Ao longo dessa narrativa, Calvino nos guia por doze capítulos e dez começos em que esse leitor médio, comum, tenta concluir a sua leitura. Em cada um desses capítulos, Italo insere elementos que complexificam a trama (como a existência de um tradutor responsável por escritos apócrifos) e apresentam uma alegoria do sistema literatura: a leitura desinteressada, a leitura especializada, a tradução, a vendagem, o espaço da biblioteca e etc.

No entanto, o que chama bastante a atenção é a estrutura do “hiper-romance”. Ao colocar dez inícios ao longo de sua narrativa, Calvino acaba por apresentar dez maneiras diferentes de construir uma trama e propõe, com isso, um jogo de busca dentro do texto: nós, leitores, criamos um final para cada livro interrompido – “o que multiplica a ação da leitura ao infinito”, diria Martha Ribeiro em seu texto – além de buscar um sentido para a existência do diálogo entre textos tão diferentes, já que cada um apresenta um estilo diferente, como o próprio Calvino enumera no apêndice da edição: romance da angústia, romance da perversão, romance da neblina…

Me parece que, além disso, o que Calvino também consegue é uma maneira de trabalhar com uma inquietação da literatura de Borges: o acaso. Como já analisamos aqui, ao escrever “O jardim de veredas que se bifurcam”, Jorge Luis Borges tenta organizar um romance labiríntico, quase infinito, guiado pelo acaso e pelas escolhas. O que Italo Calvino monta em seu “hiper-romance”, Se um viajante numa noite de inverno, uma narrativa onde o acaso atua de maneira forte na trajetória do Leitor e ainda permite que os significados decorrentes da continuidade dos capítulos e de suas conexões se desdobrem de acordo com os leitores.

SE UM VIAJANTE NUMA NOITE DE INVERNO | Italo Calvino

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Nilson Moulin;
Tamanho: 280 págs.;
Lançamento: Junho, 1999.

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Tags: Book ReviewCompanhia das LetrasCrítica LiteráriaItalo CalvinoJorge Luís BorgesLiteraturaResenhaRomancese um viajante numa noite de inverno

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