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‘Sem gentileza’, de Futhi Ntshingila: a violência contra mulheres pobres

Em 'Sem Gentileza', Futhi Ntshingila escreve sobre a luta pela sobrevivência de mulheres africanas.

porMarilia Kubota
2 de outubro de 2018
em Literatura
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'Sem gentileza', de Futhi Ntshingila: a violência contra mulheres pobres

Imagem: Reprodução.

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Sem gentileza (Dublinense, 2017), de Futhi Ntshingila, é a história de duas mulheres negras da etnia zulu, Zola e Mvelo, durante e após o fim do apartheid na África do Sul. Mais do que sobre a ancestralidade africana, é uma obra sobre a vulnerabilidade da sexualidade feminina em condições sociais desumanas.

A história começa com os infortúnios de Mvelo, que aos 14 anos cuida sozinha da mãe, Zola, que está doente de AIDS, num abrigo de refugiados da África do Sul. Além de lutar com habitação precária e a fome, é preciso pensar diariamente na proteção da sexualidade. A adolescente é um alvo marcado para os predadores do local. O título do romance é uma referência a um poema do poeta galês Dylan Thomas, falado por um amigo de Mvelo no velório da mãe:

“Vá sem gentileza nesta escuridão sadia
A velhice deve arder e rugir ao sol poente
Raiva, raiva contra o fim da luz que se irradia.”

Mvelo e a mãe foram obrigadas a viver num assentamento devido a dois maus relacionamentos afetivos de Zola. Ela nasceu em família de classe média, mas a gravidez inesperada e a morte súbita do namorado a faz desviar de uma vida segura. Expulsa de casa pelo pai, é acolhida pela tia, que é dona de bar. Lá, conhece o advogado Sipho, que se apaixona por sua firmeza. Como ele é mulherengo, logo se apaixona por outra mulher e Zola é jogada para a favela.

Nonceba, a nova mulher de Sipho, representa a afirmação da mulher negra. Advogada, estudou nos Estados Unidos, mas reverencia a ancestralidade da mãe e da avó. Durante a infância e adolescência, Mvelo a adota como modelo feminino e a madrasta a trata com carinho. Quando a avó de Nonceba nos Estados Unidos, ela é obrigada a cuidar dos funerais e abandona Mvelo.

A narração é feita de modo a guiar o leitor através de um folhetim. Ou seja, embora trate de assuntos dramáticos, como a pobreza e a AIDS, desliza e constrói personagens não convincentes, como Sipho e Nonceba. O casal devia representar a afirmação da negritude e da ancestralidade zulu, mas tornam-se personagens secundários para ampliar o protagonismo de Zola e Mvelo.

A história começa com os infortúnios de Mvelo, que aos 14 anos cuida sozinha da mãe, Zola, que está doente de AIDS, num abrigo de refugiados da África do Sul. Além de lutar com habitação precária e a fome, é preciso pensar diariamente na proteção da sexualidade.

A pobreza que se conflitua com as tradições africanas é o tema do romance. A tradição do teste de virgindade nas meninas, herança tribal africana realizadas pelas matriarcas confronta-se com a violência e doenças na favela. A tradição expõe as jovens à violência sexual, sejam assédios, abusos ou estupros perpetrados por homens infectados pelo vírus HIV. Uma crença circula que, se tiverem relações sexuais com uma virgem, serão curados.

“Mvelo foi às sessões de teste de virgindade com clareza no pensamento. Estava fazendo aquilo principalmente por Zola e, mesmo assim, sentia que era dona de si. E como muitas garotas de sua idade, estava curiosa para ver o que e como era o teste. Descobriu que haviam sido testadoras, que estavam preocupadas com o abuso infantil disseminado e que enxergavam o teste como a forma tradicional de resolver o problema. Outras, no entanto, estavam embriagadas com o poder e a atenção que recebiam da mídia. Correspondentes estrangeiros e tarados endinheirados amontoavam-se com câmeras para um circo carnal repleto de garotas imaculadas abrindo as pernas.

Jornalistas genuínos tomavam cuidado para não tirar vantagem, enquanto os voyeurs, babando, utilizavam lentes de longo alcance para focalizar o alvo com precisão, assim como fazem durante Umkhosi Wohlanga, a dança dos juncos, onde jovens princesas Zulus seminuas presenteiam juncos ao rei Zulu. Para o teste, mulheres idosas formavam filas com as garotas de manhã cedo, normalmente perto de um rio. Elas deitavam-se em fila, cada uma acompanhada de uma examinadora, e abriam as pernas. Com dois dedos de cada mão, a examinadora forçava a abertura dos lábios de suas vaginas, procurando por um ‘olho’; a vagina de uma virgem é fechada, como um botão de uma flor, que lembra um olho. Ao encontrar o olho, examinadora erguia-se, posicionada no vão entre as pernas da virgem, e assentia positivamente às outras. Haveria então muitos uivos de alegria das vovós. Elas recebiam certificados por escrito e eram marcadas com um ponto em suas testas, indicando que ainda eram puras. Na favela de Mvelo, ela ficou conhecida como ‘a virgem’. Presa fácil. Como uma zebra correndo em meio às gazelas: marcada.” (páginas  76-77)

Futhi Ntshingila nasceu em Pietermaritzburg, em 1974, e vive em Pretória. Publicou dois romances: Shameless (2008) e Sem gentileza (2014). Sua literatura é dedicada à preservação da memória de mulheres cujas trajetórias foram historicamente ignoradas. Jornalista de formação, mestra em Resolução de Conflitos, ela busca colocar em prática as suas ideias no escritório da presidência de seu país, a África do Sul.

SEM GENTILEZA | Futhi Ntshingila

Editora: Dublinense;
Tradução: Hilton Moreno Lima;
Tamanho: 160 págs.;
Lançamento: Junho, 2016.

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Tags: apartheidBook ReviewCrítica LiteráriaEditora DublinenseFeminismoFuthi NtshingilaLiteraturaLiteratura Africanaliteratura sul-africanaResenhaReviewRomanceSem gentilezaviolência sexual

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