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‘Tirza’: o jogo das aparências

Em 'Tirza', escritor holandês Arnon Grunberg faz uma curiosa mistura de gêneros para compor uma história surpreendente sobre fracasso e solidão.

porEder Alex
9 de dezembro de 2015
em Literatura
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'Tirza': o jogo das aparências

Imagem: Reprodução.

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Pense rápido: diga cinco obras de escritores holandeses que marcaram a sua vida. Vai, pensa aí. Difícil, né? Nem o Google ajuda muito nessas horas, pois aparentemente o pessoal lá pros lados de Amsterdã não costuma frequentar as estantes brasileiras, pelo menos não tanto quanto ingleses, franceses e russos, por exemplo. Tendo como base Tirza, lançado este ano pela editora Rádio Londres com tradução da paranaense Mariângela Guimarães, podemos constatar que estávamos perdendo tempo e precisamos corrigir essa falha logo.

O romance escrito por Arnon Grunberg é uma daquelas obras que tratam do cotidiano e parecem falar sobre coisas pequenas, quando no fundo refletem sobre as grandes questões da humanidade. Jörgen Hofmeester é um editor de livros de meia idade que conquistou certa estabilidade econômica mesmo sendo bastante medíocre. Ele morava com a mulher e as duas filhas numa boa casa, na melhor rua de um bairro nobre de Amsterdã, onde levava uma vida bastante segura e previsível. Seu pequeno império de aparências começa a ruir quando flagra sua filha mais velha numa situação constrangedora e também quando sua esposa resolve abandoná-lo sem mais nem menos. Fora isso, descobre que a editora em que trabalha não está mais interessada em seu trabalho, pois o considera insignificante.

O livro começa com um tom irônico e bem humorado, com um angustiado Hofmeester cuidando dos preparativos da festa de despedida de Tirza, sua filha mais nova, para quem ele lia Memórias do Subsolo, do Dostoiévski, antes de dormir pretendendo que ela aprendesse sobre o niilismo o quanto antes e não se decepcionasse com o mundo na adolescência. Após a saída da filha mais velha e da esposa, Hofmeester e Tirza estavam há alguns anos morando sozinhos e desenvolveram uma relação um tanto quanto nebulosa, que a cada página vai enchendo mais e mais a mente do leitor de minhocas. E o problema se agrava, pois agora ela terminou o colégio e pretende viajar para a África com um namorado que ele ainda nem conheceu.

A viagem da filha é a solidão invadindo a sua monótona existência, só que agora de maneira bem mais avassaladora. Ele até conformou-se com o fracasso de sua vida e repete várias vezes que agora precisa aprender a morrer, mas o retorno repentino da esposa, tão decadente quanto ele, só faz com que tudo isso fique ainda mais confuso em sua cabeça.

O romance escrito por Arnon Grunberg é uma daquelas obras que tratam do cotidiano e parecem falar sobre coisas pequenas, quando no fundo refletem sobre as grandes questões da humanidade.

É ao longo desta festa que vamos descobrindo através de flashbacks mais coisas sobre o passado daquela família e as relações precárias entre eles, então aquilo que parece uma comédia de erros começa lentamente a ganhar contornos muito mais dramáticos e até mesmo sinistros. Essa estranha mistura de gêneros funciona perfeitamente e nos leva a um plot twist que faz a nossa cara ficar num nível “WTF?-o-Bruce-Willis-era-um-fantasma?” de embasbacamento. Nada do que li esse ano chegou perto de ser tão surpreendente quanto o terço final desse livro.

O que há de grandioso nessa obra, entre outras coisas, é o fato de que o jogo de aparências orquestrado por Grunberg não é um truque narrativo para forçar futuras reviravoltas do enredo. O romance todo é uma crítica ou um comentário a respeito do modo de vida da classe média europeia, no qual os valores morais são sobrepujados por uma necessidade quase doentia de parecer feliz e bem sucedido. Hofmeester parece não se dar conta de que ao viver supostamente em função dos outros, na verdade o fazia apenas por uma necessidade imensa de reconhecimento, de validação. Ao se preocupar apenas com o seu umbigo narcisista (sem falar em seus pensamentos racistas), aquele triste e limitado pai de família se enfia numa espiral de autodestruição que nos faz sentir um misto de pena e asco.

Até mesmo o sexo surge aqui como um elemento que desvela o teatro social. Não há sensualidade e o tom animalesco de praticamente todas as situações sugere não um retorno às origens ou a alguma chama de um amor antigo. Não, tudo é decadência, os corpos se aproximam mais por desespero e ódio do que por atração, o objetivo é a fuga e não o gozo.

Fosse uma obra cinematográfica, daria pra dizer que Tirza é um “filme de atores”. O enredo é relativamente básico, com pouquíssima movimentação, então são os personagens e seus diálogos e pensamentos, às vezes bem brutais, que tornam essa obra tão interessante e com tantas camadas de leitura. Além do pai, os personagens da mãe e da filha mais nova, são desenvolvidos de modo a nos deixar intrigados a respeito de suas decisões, que muitas vezes nos levam a interpretações e julgamentos equivocados. E como é bom estar enganado nesses casos…

Tirza é um livro que consegue ser comovente e perturbador praticamente ao mesmo tempo. Conseguir equilibrar essa dicotomia, enfiando aqui e ali alguns toques de humor, de modo a nos fazer ficar grudados nas mais de 400 páginas não é uma coisa muito simples de se fazer. Arnon Grunberg consegue isso tudo utilizando uma linguagem límpida, com belas frases pro povo que gosta de grifar, mas que é bem tranquila de ler, pois não é crivada de afetações estilísticas. Além disso, o enredo é tão poderoso por si só que ele nem precisaria desse tipo de recurso.

Fiquemos, pois, atentos ao que andam escrevendo na Holanda. Grunberg me convenceu de que vale muito a pena.

TIRZA | Arnon Grunberg

Editora: Rádio Londres;
Tradução: Mariângela Guimarães;
Tamanho: 464 págs.;
Lançamento: Junho, 2020 (atual edição).

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Tags: Arnon GrunbergCrítica LiteráriaLiteraturaLiteratura HolandesaRádio LondresResenhaTirza

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