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Home Literatura

Primeiras viagens com Machado: ‘Dom Casmurro’

porArthur Marchetto
14 de fevereiro de 2019
em Literatura
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Ressaca na praia do Flamengo no ano de 1915, onde Escobar morreu / Foto: Augusto Malta (Instituto Moreira Salles)

Ressaca na praia do Flamengo no ano de 1915, onde Escobar morreu / Foto: Augusto Malta (Instituto Moreira Salles)

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Para conhecer um dos escritores brasileiros mais estudados, resolvi elaborar um plano de leitura que comportasse os livros da Trilogia Realista, que marcam a maturidade do autor: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899). Li, também, a coletânea de contos Sobre a imortalidade de Rui de Leão, lançada pela Plutão Livros em 2018, que fala um pouco do papel de Machado no estabelecimento da ficção científica brasileira. Além disso, pretendo ler a biografia de Silviano Santiago, Machado (2016), ganhador do 59º prêmio Jabuti.

Durante a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, percebi como Machado fez surgir um movimento de sincretismo da literatura com tratados filosóficos, representado pelo Humanitismo de Quincas Borba, uma lei do mais forte às avessas. A mistura dessas duas estéticas acontece no alternar entre os capítulos de reflexão do personagem principal e os que dão prosseguimento à história. Em Quincas Borba, temos a aplicação prática dessa filosofia Humanitas e um contato com seu narrador não-confiável, que modificou a percepção da literatura realista e revelou a maneira com que Machado olhava para a produção literária do período.

Tal tipo de narração valoriza a parte subjetiva de suas personagens e impinge nelas fortes conflitos morais pautados pelo contexto social. Em Dom Casmurro, o embate representado pelo triângulo amoroso de Capitu, Bentinho e Escobar retrata as relações entre a classe aristocrática decadente e os profissionais liberais que proliferavam no período.

Durante a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, percebi como Machado fez surgir um movimento de sincretismo da literatura com tratados filosóficos, representado pelo Humanitismo de Quincas Borba, uma lei do mais forte às avessas.

O romance de Machado se propõe a contar a história de Bento Santiago (Bentinho, para os íntimos). Narrada em primeira pessoa, o que guia a narrativa é a vontade do personagem de atar as duas pontas de sua vida, o passado e o presente – uma missão que não se completa, já que a narrativa trata mais da perda do que do resgate da memória. Nesse relato, o ponto mais alto é a suspeita que paira sob a possível traição de Capitu. Mas para que entendamos isso é preciso contextualizar o momento em que as duas etapas da sua vida se passam: as décadas de 1850 e 1890, respectivamente.

De acordo com o prefácio de John Gledson, ainda que o café tivesse substituído as vendas de açúcar no começo do século XIX, a base do sistema era o trabalho escravo. Devido às pressões externas, o comércio de escravos só acabou na década de 1850, quase 30 anos antes da abolição. Com isso, a sociedade teve um forte desenvolvimento econômico pelo dinheiro que passou a circular marcado por uma aura quase eufórica. Foi o outro lado desse sentimento que Machado retratou.

Nos anos 1950, a família de Bentinho era representante da aristocracia latifundiária. Suas rendas provinham do aluguel de imóveis e escravos e apólices do governo. Segundo Roberto Schwarz em As ideias fora do lugar, eles não deixaram de ser escravocratas, já que tanto os escravos quanto os “homens livres” eram extremamente dependentes da elite e seus favores. Enquanto aqueles quase não aparecem nas obras de Machado, estes aparecem com abundância. Em Dom Casmurro estão, cada um à sua maneira, José Dias e Pádua a representar essa servidão.

Em primeiro lugar, José Dias representa a figura do agregado e não é necessariamente uma figura ruim, mas pode ser visto como “um liberal reprimido que mantém suas opiniões em segredo”, como diz Gledson. Por outro lado, a família Pádua é sustentada por um funcionário do Estado que mal consegue pagar suas contas e fica preso nos entraves burocráticos e hierárquicos do corpo estatal. Ambos dependem das caridades de Dona Glória para manter seus confortos.

Esse retrato se modifica durante a “segunda ponta” da sua história. Em 1890, Bentinho se tornou um conservador excêntrico: já não está no mesmo nível na escala social, vive em uma casa no subúrbio carioca construída de acordo com sua antiga moradia em Matacavalos. Apelidado de Dom Casmurro por sua rabugice, se fecha ao mundo moderno e seus valores – de maneira oposta a Capitu, que desde cedo tinha interesses incomuns para uma dama tradicional, como a vontade de aprender latim.

Em um texto da revista Piauí chamado “O Segredo de Escobar”, André Dutra fala sobre as tão conhecidas investigações sobre a possível traição de Capitu. Ele diz que já sabemos o que representaria a traição de Capitu (alguém que queria ascender socialmente), sabemos da desconfiança de Bentinho (representante da elite carioca tradicional, que guiava a história do jeito que bem entendesse e manipulava como quisesse), mas o que faltava era entender por que ela preferiria Escobar. O que ele teria a oferecer?

Em primeiro lugar, André cita que, nesse cenário apresentado, a elite escravocrata não gostava de assumir que errou e perdia seu poder. Por outro lado, Escobar representava o mito do self-made man, que construía sua fortuna a partir do suor e do tino pro comércio. No simbólico da parte econômica, Escobar fora a ruína de Bentinho. Ou seja, ainda que jamais tenhamos uma interpretação definitiva da obra, na conclusão de seu texto, ao cogitar as razões para a possível traição de Capitu, André Dutra afirma que “na virada para o século XX, quando Dom Casmurro narra a sua história na esperança de atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência, haviam roubado quase tudo da aristocracia. Influência. Status. Riqueza. Até a mulher”.

link para a página do facebook do portal de jornalismo cultural a escotilha

Tags: Capitudom casmurroLiteraturaLiteratura BrasileiraMachado de AssisResenhaRoberto Schwarz

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