Final de ano chegando. É hora de rever as leituras de 2020 e destacar algumas das mais significativas. Abaixo uma lista com os dez livros, em ordem alfabética de título, que foram uma boa companhia antes e durante a pandemia (que ainda não passou!).
Aranhas – Carlos Henrique Schroeder
Partindo de metáforas sobre os aracnídeos, visitando Kafka e Borges, Carlos Henrique Schroeder tece um comentário sagaz sobre a volatilidade das relações. Os contos de Aranhas são um comentário intimista sobre as contradições que moldam o mundo e revelam um dos autores mais inteligentes e interessantes dos nossos tempos.
A tensão superficial do tempo – Cristovão Tezza
Em texto preciso, o escritor curitibano examina as raízes do bolsonarismo ao mesmo tempo em propõe uma viagem íntima ao seu personagem. Narrado em um único dia, como O Fotógrafo, A tensão superficial do tempo é um importante documento sobre um Brasil à direita, capaz de revisitar o seu passado no que ele tem de pior.
A vida mentirosa dos adultos – Elena Ferrante
É hora de rever as leituras de 2020 e destacar algumas das mais significativas.
A misteriosa escritora napolitana é, sem dúvida, um dos nomes mais importantes do meio literário contemporâneo. Com uma obra única, capaz de retratar o olhar feminino diante do mundo com tamanha singeleza, Ferrante em A vida mentirosa dos adultos cria um terremoto em volta de uma família aparentemente convencional. Explorando as feridas e tocando as cicatrizes que rondam essas vidas, Elena Ferrante cria uma bela e melancólica metáfora do amadurecimento.
Confissão de um assassino – Joseph Roth
Boa parte da obra do escritor austríaco Joseph Roth ainda é um enigma no Brasil. Confissão de um assassino, que ajuda a reparar esse erro, remonta os eventos que fizeram do camponês Golubtchik um homem mergulhado em paixão e desespero. A partir de elementos do romance noir, Roth constrói um breve tratado sobre o entendimento da natureza humana, explorando o egoísmo, as vaidades e as vulnerabilidades que se escondem sob o verniz da coragem e do desajuste social.
Olhos de sal – Carlos Machado
Em sua mais recente novela, Carlos Machado volta aos temas que lhe são caros: a incomunicabilidade, o não lugar, a desterritorialização e os processos de autoexílio. Olhos de sal é um livro singular e que retrata o desejo iminente de desconexão ao propor investigações pessoais.
O mez da grippe – Valêncio Xavier
O mez da grippe, obra máxima e quase esquecida de Valêncio Xavier, foi publicado pela primeira vez em 1982, ganhou uma edição da Companhia das Letras no final dos anos 1990 e ficou desaparecido por muitos anos – até ser resgatado pela Arte & Letra durante o pandêmico 2020. O livro, o grande romance-colagem da literatura brasileira, reconstrói a Curitiba de 1918 de joelhos pela gripe espanhola. Ironicamente, Valêncio fez um triste jogo de espelhos com o Brasil do covid-19.
Não aceite caramelos de estranhos – Andrea Jeftanovic
Nos contos que formam o livro, Andrea Jeftanovic, uma das grandes vozes da literatura latino-americana, descontrói a ideia de família e coloca em xeque a noção de moral. Com uma narrativa assombrosa, a chilena explora as brechas que levam o ser humano à selvageria. Os textos, que flertam com referências clássicas e flutuam na incoerência do cotidiano, expõem situações-limite e oferecem uma poderosa reflexão acerca do que é estar vivo em tempos tão obscuros.
O sol dos dias – Taylane Cruz
A escritora sergipana é um dos nomes mais reluzente da narrativa curta. Seu livro O sol dos dias, que acaba de ser lançado, apresenta ao leitor contos sensíveis e elegantes, construídos a partir de um imaginário poético e bastante delicado.
Solução de dois Estados – Michel Laub
A partir do conflito entre dois irmãos, um empresário miliciano e uma artista, cuja família foi devastada pelo Plano Collor, Laub propõe uma reflexão acerca dos caminhos tomados pelo país e que desembocaram em uma onda ultraconservasora. Como Tezza, o gaúcho parte do universo pessoal para construir o seu caleidoscópio literário.
Vamos comprar um poeta – Afonso Cruz
Nessa pequena fabulosa distópica, o escritor português Afonso Cruz reafirma a arte como o único antídoto contra a ignorância e o tédio. A sua prosa cheia de humor e ironia retrata um mundo em que artistas são “animais de estimação” das famílias de classe média. Diante desse absurdo, Afonso Cruz compõe uma obra original e necessária.
E você, quais as leituras que marcaram seu 2020?