George Orwell, em um ensaio sobre Yeats, comentou que “o assunto e as imagens que um livro usa para descrevê-lo podem ser explicados em termos sociológicos, mas sua textura, aparentemente, não”. Para o autor de 1984, a literatura era uma importante ferramenta para destruir o obscurantismo criado pelo estado e pela grande mídia. Textos como A Revolução dos Bichos e Na Pior em Paris e Londres deixa isso muito claro. A escritora e jornalista cearense Jarid Arraes também faz de sua obra uma literatura de combate contra o preconceito, a misoginia e os lugares-comuns da história brasileira.
Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis é mais que um acerto de contas com o passado e o presente, é um manifesto de sobrevivência. Da orelha do livro, passando pelo prefácio e, claro, cada um dos relatos, Jarid cria uma colcha de retalhos de histórias que precisam ser contadas, conhecidas. São mulheres nobres de tribos africanas vendidas como escravas, mulheres que não permitiram se calar frente às ofensas dos homens brancos, mulheres que lutaram pela sua liberdade e também pela das outras.
O livro é um espelho do protagonismo negro – “sem intermediários”, como diz a professora Jaqueline Gomes de Jesus na apresentação – em um mundo doente, refletindo – nas diversas acepções da palavra – a respeito da sua presença como formador fundamental da sociedade e da cultura brasileira. Não é difícil pensar em Machado de Assis, considerado o maior escritor do nosso país, mas que ainda tem sua negritude negada – como não lembrar daquele comercial de TV no qual o autor de Dom Casmurro foi embranquecido?
Ler cada um dos relatos é um deleite e, ao mesmo tempo, fazer justiça.
O que se percebe é que, na era da abundância de informação, nem tudo está disponível ou acessível a todos. É preciso colocar certas coisas em destaque, lutar para que elas estejam também sob os holofotes e, por isso, o trabalho de Arraes é tão importante.
Histórias silenciadas
A escolha do cordel vem a calhar ao livro: um gênero também marginalizado e deixado de lado em vários estados do país. Dessa maneira, a autora cria, por meio da forma e do conteúdo, uma estética muito própria e autêntica para fazer reverberar a vida de gente realmente guerreira.
A histórias silenciadas ganham vozes com Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis. Jarid não poupa o leitor à imersão no sofrimento e na dor de mulheres como Dandara, Maria Firmina dos Reis e Na Agontimé. Apesar das tragédias e das superações, Jarid Arraes faz de seu livro um trabalho – literalmente – poético e múltiplo, repleto de literacidade. Ler cada um dos relatos é um deleite e, ao mesmo tempo, fazer justiça.
[box type=”info” align=”” class=”” width=””]HEROÍNAS NEGRAS BRASILEIRAS EM 15 CORDÉIS | Jarid Arraes
Editora: Pólen Livros;
Quanto: R$ 35,00 (176 págs);
Lançamento: Maio, 2017.
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