Os Simpsons é uma das séries de maior durabilidade na TV mundial e traz a marca da irreverência e do humor como pontos que a destacam das demais. Sendo uma série de desenho animado, é possível que seus temas fossem banais, tolos até, como que voltado para um público infantil. No entanto, para os espectadores e fãs do seriado, fica patente que isto não ocorre.
Os Simpsons é de uma inteligência espetacular. O seu público-alvo, talvez não seja um termo muito adequado, não são as crianças. O seu criador, Matt Groening, elaborou um grupo bem-humorado de personagens que falam dos mais diversos temas e o fazem através de inúmeras sacadas irônicas e também através de referências a ícones do universo erudito e pop, sejam livros ou filmes, o que se for percebido por um espectador mais atento faz com que ele sinta um grande prazer por ter identificado o referencial teórico da piada ou cena, mas também quem não percebeu não perde nada, porque dá risada de qualquer forma, pois a piada não perde a graça por isso.
A série Os Simpsons não é meramente um seriado pastelão que faz piada à toa. Seus roteiristas são intelectuais (não no sentido clássico do termo) que sabem fazer um humor inteligente de fato, tanto que muitos deles provêm de universidades que são tradicionais, como Harvard. Com roteiristas desse naipe, a série carrega inúmeras alusões a obras de arte, clássicos da literatura, obras-primas do cinema, entre outros referenciais que pertencem ao universo erudito, pop cult ou ainda do acadêmico.
Dentre as mais diversas alusões e referências nos seus episódios, existem as que são feitas a filósofos ou que tratam de temas que são afeitos da Filosofia. O seriado tem muito de Filosofia nos seus personagens, nas suas histórias. Para provar isso, o filósofo Aeon J. Skoble, o escritor Mark T. Conard e o professor e editor William Irwin, compilaram ensaios sobre a relação da série com a Filosofia. O resultado é o livro Os Simpsons e a Filosofia.
O livro é divido em 4 partes: a primeira trata dos personagens que compõem a família Simpson, Homer, Lisa, Maggie, Marge e Bart, mostrando como cada personagem, através de seu comportamento e personalidade, desvenda uma relação com determinado pensador ou é inserido dentro de uma temática filosófica, como por exemplo nos ensaios: “Homer e Aristóteles”, de Haja Halwani, “Assim falava Bart: Nietzsche e as virtudes de ser mal”, de Mark T. Conard, ou “Lisa e o anti-intelectualismo americano”, de Aeon J. Skoble.
A segunda parte refere-se aos temas que são tratados na série, as reflexões que suscitam, o hiperironismo existente no programa e também as alusões a ícones da cultura. Destaque para os seguintes ensaios: “Os Simpsons e a alusão: ‘O pior ensaio já escrito’”, de William Irwin e J.R. Lombardo, “Os Simpsons, hiperironismo e o significado da vida”, de Carl Matheson.
Já na terceira parte os ensaios tratam da Ética contida n’Os Simpsons, trazendo à tona o pensamento do filósofo Emmanuel Kant. Dessa parte, os melhores ensaios são: “O mundo moral da família Simpson: uma perspectiva kantiana”, de James Lawler, “Os Simpsons: política atomística e a família nuclear”, de Paul A. Cantor, “A Hipocrisia em Springfield”, de Jason Holt, e “A função da ficção: o valor heurístico de Homer”, de Jennifer L. McMahon.
Um livro que atende bem aos diversos públicos, desde o estudante de Filosofia até ao fã da série.
Na quarta e última parte, existe uma aproximação da série com alguns filósofos (apesar dessa parte ser um pouco carente, pois é a que menos tem ensaios), como Karl Marx e Roland Barthes. Uma atenção dobrada deve ser dada aos seguintes textos: “Um marxista (Karl, não o Groucho) em Springfield”, de James M. Wallace, e “’E o resto se escreve sozinho’” Roland Bathes assiste a Os Simpsons”, de David L.G. Arnold.
Os textos do livro são escritos com profundidade, mas sem o hermetismo que caracterizam os escritos filosóficos, sem elitismo acadêmico, mas com bom humor, cheio de gracejos e com bons insights, revelando curiosidades sobre o seriado, alusões e referências em episódios clássicos que nos passaram despercebidos e que com a leitura dos ensaios adquiriram novas perspectivas interpretativas. Um livro que atende bem aos diversos públicos, desde o estudante de Filosofia até ao fã da série.
Com uma boa equipe responsável pela elaboração dos ensaios, esse livro tem o mérito de mostrar como a Filosofia está permeada em lugares insólitos como uma série popular de TV, e que ela tem um grande poder de influência mesmo na contemporaneidade onde parece que seu espaço de atuação é reduzido ao espaço meramente acadêmico, o que Os Simpsons e a Filosofia mostra ser o contrário.
OS SIMPSONS E A FILOSOFIA | Aeon J. Skoble, Mark T. Conard e William Irwim
Editora: Madras;
Tamanho: 288 págs.;
Lançamento: Fevereiro, 2014 (7ª edição).
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