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‘Vendo Vozes’: a linguagem do silêncio

Em 'Vendo Vozes', Oliver Sacks utiliza uma linguagem bastante acessível para falar de ciência e explorar o surpreendente universo dos surdos.

porEder Alex
9 de novembro de 2016
em Literatura
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'Vendo Vozes': a linguagem do silêncio

Oliver Sacks, autor de 'Vendo Vozes'. Imagem: Reprodução.

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Além da boa companhia em dias cinzentos e angustiantes, a leitura também pode nos proporcionar pequenos momentos de iluminação ali na nossa imensa caverna de ignorâncias. O que Oliver Sacks faz em Vendo Vozes, lançado pela Companhia das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta, é acender uma tocha e nos mostrar claramente (a nós, os leigos) uma verdade um tanto incômoda: a gente praticamente não sabe nada sobre o universo daqueles que não escutam.

Tive um brevíssimo contato com esse mundo em uma disciplina de educação especial durante a graduação, que foi bacana, mas que infelizmente tinha uma carga horária inexpressiva. Naquela época aprendi, com grande surpresa, o que Oliver Sacks explica no início do livro: a língua de sinais não é única, não serve para todos os surdos do mundo. Assim como na fala, cada país ou comunidade possui a sua própria língua, com estruturas gramaticais (sim, existe uma gramática espacial que define a área e o modo como os movimentos ocorrem) bem diferentes.

Como Sacks, que é psiquiatra, tem os “paranauê” da neurologia, ele faz uma abordagem mais aprofundada a respeito da aquisição/desenvolvimento da linguagem em pessoas surdas, pesquisando comunidades de surdos (a velhinha que fala sozinha usando gestos é um tanto comovente) e mostrando nuances incríveis do cérebro humano, que praticamente clama por interação, por comunicação desde o início. O resultado disso é fascinante para qualquer pessoa que estude a língua ou que simplesmente pire com a ciência.

Sacks aborda questões complexas usando uma linguagem clara, sem muito blá, blá, blá acadêmico, mas sem fugir do rigor científico e sem tratar o leitor como um imbecil.

Assim como Andrew Solomon (O Demônio do Meio-Dia), Sacks aborda questões complexas usando uma linguagem clara, sem muito blá, blá, blá acadêmico, mas sem fugir do rigor científico e sem tratar o leitor como um imbecil. Ele nos mostra, por exemplo, que o lado esquerdo do nosso cérebro é o responsável pela linguagem e o lado direito o responsável pela compressão de imagens, mas no caso de um surdo pode haver diferença, pois o seu cérebro classificará algumas imagens como sendo linguagem. É como se a visão transformasse os movimentos em palavra. Isso significa que uma pessoa surda que tenha sofrido uma lesão do lado direito, talvez ainda consiga se comunicar, pois seu cérebro se adaptará conforme sua necessidade de se expressar e, por conseguinte, sobreviver. Lembra o tio Darwin? Pois é…

Outra questão interessante é a respeito do desenvolvimento dos sentidos. Tá aí o Demolidor para nos mostrar que, ao perder um de nossos sentidos, todos os outros meio que se tornam superpoderes. No caso dele, teve o lance dos produtos químicos que cagaram a sua infância e ao mesmo tempo lhe deram uma forcinha, mas na vida real não é está assim tão diferente. Os estudos apresentados por Oliver Sacks mostram que há nuances nos movimentos da língua de sinais que simplesmente são imperceptíveis para quem não é surdo. Como eles dependem da imagem para se comunicar, acabam desenvolvem uma habilidade incrível para perceber detalhes e ampliam as noções de profundidade, foco etc. No fim das contas, Matt Murdock faz algo parecido, só que com o ouvido.

Algo que eu nem imaginava, e só descobri com esta leitura, é o fato de que a língua de sinais é tão rica quanto a fala. Mais do que isso, por vezes ela pode até ter mais possibilidades de expressão, entonação, etc. Toma essa, ignorância!

Vendo Vozes, ao discutir trabalhos de estudiosos como Vygotsky e Chomsky, mostra que os surdos não são um grupo de deficientes, mas um grupo social que tem a sua própria cultura e que não possui nenhuma outra limitação além da surdez.

Muita gente acha que alguns surdos possuem algum tipo de retardo mental, mas na verdade, no caso das pessoas sem problemas neurológicos, a capacidade intelectual está lá, basta ser estimulada a partir da interação social. Inclusive todo o organismo vai se esforçar para que isso ocorra.

Em uma pessoa, seja ela surda ou ouvinte, a inteligência é inata, um universo de possibilidades está ali quietinho no cérebro da criança só esperando pelo start. O mais bacana é que o pensamento será desenvolvido justamente através da linguagem, uma vez que a criação dos significados se dará a partir da relação com outros indivíduos, através de sons ou de gestos, tanto faz.

Nesse sentido, é muito bonito poder perceber, cientificamente, que em alguns momentos chaves de nossa vida simplesmente não há espaço para a solidão plena, pois dependemos uns dos do outros para continuar seguindo em frente.

VENDO VOZES | Oliver Sacks

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Laura Teixeira Motta;
Tamanho: 216 págs;
Lançamento: Março, 2010.

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Tags: Andrew SolomonCompanhia das LetrasCríticaCrítica LiteráriaDemolidorLaura Teixeira Mottalinguagem dos sinaisLiteraturanão ficçãoo demonio do meio diaOliver SacksResenhaReviewsurdosVendo Vozes

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