Quando Bala de Prata, adaptação do livro A Hora do Lobisomem, estreou no Cinema em Casa, do SBT, não chegou a ser tão impactante para mim, pois naquela época eu já estava traumatizado com outro filme de bastante sucesso: Um Lobisomem Americano em Londres. Lembro-me até hoje das noites mal dormidas imaginando aqueles dois caras, um de jaqueta vermelha e outro de jaqueta verde (cores ainda bem vivas na minha memória), caminhando em noite de lua cheia numa neblina lazarenta e com o perigo cada vez mais próximo. Fora o cagaço de ver aquela transformação medonha. E eu não tinha nem 10 anos, ah, os anos 80…
Pois bem, Stephen King, que sempre contribuiu para a nossa coleção de cagaços, já havia nos apresentando um canino satânico em Cujo, mas voltou ao tema para nos apresentar a sua versão de um dos monstros mais famosos das histórias de terror.
Há muitos anos o livro estava esgotado aqui no Brasil e eis que a Suma de Letras não só ressuscitou uma das obras mais famosas do mestre do suspense, como o fez em grande estilo, com uma edição especial em capa dura, com tradução da Regiane Winarski e com ilustrações de Bernie Wrightson (um dos criadores do Monstro do Pântano, da DC Comics).
Outros artistas brasileiros, como Rebeca Prado e Lucas Pekegrineti, também foram convidados para contribuir com algumas ilustrações, mas o destaque mesmo é Rafael Albuquerque (que trabalhou com King na HQ Vampiro Americano). A ilustração do desenhista gaúcho é daquelas que não ficaria nada mal num pôster bem grande.
Como o livro foi publicado em 1983, ele pertence ao que chamo de Fase de Ouro de Stephen King, pois segundo eu mesmo o período entre 1974 e 1986 foi o que rendeu os livros mais fodas do autor. É justamente por ter surgido nessa época e por ter vindo logo na sequência do excelente Cemitério, que A Hora do Lobisomem me parece um pouco à sombra de obras bem mais impactantes.
É justamente por ter surgido nessa época e por ter vindo logo na sequência do excelente Cemitério, que A Hora do Lobisomem me parece um pouco à sombra de obras bem mais impactantes.
O livro é composto por 12 contos bem curtinhos. Cada um deles representa um mês em que o lobisomem atacou uma cidadezinha americana. O ambiente é o mesmo, os personagens se repetem e as histórias se entrelaçam. A cada novo ciclo lunar os moradores se preparam para uma nova visita da besta que vem aterrorizando a vida de todos e deixando um rastro de violência.
Como as histórias são muito curtas, não chega a dar tempo de se importar com a morte de algum personagem, então creio que a melhor maneira de encarar o livro é como se ele fosse um episódio de Além da Imaginação ou de Creepshow. A ambientação sombria e o sentimento de ameaça ao estilo de vida americano é bem bacana, bem como soluções inesperadas e atos de heroísmo que escapam de alguns clichês.
Creio que um dos grandes méritos de Stephen King (pelo menos é uma das coisas que mais gosto em seus livros) é a habilidade de inserir a ameaça sobrenatural num ambiente que parece absolutamente comum, com personagens que parecem pessoas de verdade e não apenas caricaturas a serviço da narrativa. É como se aquela ameaça, por mais estapafúrdia que seja, também pudesse acontecer na minha vida, pois me identifico com aquelas pessoas. Há pouco disso em A Hora do Lobisomem, por isso me parece um livro menor, mas mesmo assim não deixa de ser interessante ver um grande escritor trabalhando com um ícone do horror, que por acaso possui bastante habilidade em dilacerar corpos humanos.
A HORA DO LOBISOMEM | Stephen King
Editora: Suma de Letras;
Tradução: Regiane Winarski;
Tamanho: 152 págs.;
Lançamento: Julho, 2017 (atual edição).