As datas não jogaram muito a favor do grupo canadense em 2016. O single “Fake My Own Death” foi lançado no dia em que California finalmente encheu de alegria os ouvidos dos fãs de blink-182 e o álbum 13 Voices saiu junto com a hype de Revolution Radio, do Green Day, no comecinho de outubro.
Num cenário romântico ideal, Sum 41 foi aquele cara ignorado pela sociedade e que se tornou um gênio incompreendido. Enquanto seus lançamentos pouco foram comentados ou aguardados como os das outras bandas, seu álbum é talvez aquilo que a gente realmente esperava no quesito qualidade em 2016.
Para resumir e ir direto para minha pseudo-análise, vou ser enfático: Deryck Whibley e Dave “Brownsound”Baksh engoliram California e pisotearam em Revolution Radio, esse último muito aquém das expectativas e das promessas dadas pelo trio de uma volta às suas origens. Do outro lado, a banda canadense parece ter contornado vários problemas de uma única vez e transformado isso no possível melhor trabalho pós-Chuck, quando a banda realmente começou a criar sua real identidade — quem disse isso foi o próprio Whibley e não esse que vos escreve.
Embalado pela sombria e melancólica “A Murder of Crows”, a banda começa a desabafar suas notas sobre os episódios que os levavam direto para a cova do showbiz. O alcoolismo e quase morte de Deryck, a saída de Dave Baksh por quase 10 anos, trabalhos titubeantes e pouco encantadores (apesar de um Grammy em uma faixa de Screaming Bloody Murder), o pulo do barco de Steve-O e o abandono quase geral por parte dos fãs foi sepultado e destruído logo que emenda para “Goddamm I’m Dead Again”, a melhor faixa do álbum pra mim até então.

A identidade e a sonoridade punk que consagrou o grupo no final dos anos 90 é bem trabalhada com as influências de heavy metal que sempre marcaram presença nos trabalhos iniciais.
É nessa música que 13 Voices é personificado. A identidade e a sonoridade punk que consagrou o grupo no final dos anos 90 é bem trabalhada com as influências de heavy metal que sempre marcaram presença nos trabalhos iniciais. Ao final, os últimos minutos ficam pelo incrível e melódico solo de Dave. Quase como um “I’m back, bitches”, tira o fã do sofá e joga o queixo no chão. Na bateria, Frank Zummo quase não nos faz sentir saudades de Steve, acrescentando um andamento tão sólido e bacana como era desde antes.
Na sequência a história é contada com o single “Fake My Own Death”, o hino de sobriedade “Breaking the Chains” e uma enxurrada de influências, técnicas e ideias diferentes muito bem encaixadas, em cada detalhe, em cada segundo. O ritmo só é quebrado pela melódica, mas apaixonante “War”, uma versão incrivelmente melhorada de “Pieces” e com a mesma intenção proposta. 13 Voices acaba na faixa 10 e você se sente sem chão ao final, exigindo por mais.

A volta do Sum 41 foi muito mais que essencial para que a banda ressuscitasse em meio aquela névoa negra que os cobriu durante quase uma década. Ela foi uma lição de como enterrar coisas ruins e usá-las como material para um trabalho incrível e com muito mais a apresentar até para quem nunca se ligou na real sonoridade. E o recado foi bem claro: se 2016 foi a época em que o punk voltou a estampar as vitrines das lojas de disco e as playlists do Spotify, eles não viriam para perder.
California perde a graça depois de 13 Voices. Revolution Radio deve ser apreciado antes, senão desanima. NOFX segue na contramão entregando mais do mesmo. O cenário é perfeito para que finalmente os fantasmas de Deryck deem um certo descanso e ele estampe um sorriso no rosto, com satisfação de dever cumprido.

Com alguns meses pela frente até que o ano acabe, 13 Voices é forte concorrente na briga por álbum do ano. Pelo menos é a aposta que eu faria desde que ele nunca mais saiu dos meus fones de ouvido e do rádio do meu carro.
Vale lembrar que a banda passa pelo Brasil em dezembro, fazendo a turnê do novo álbum. Pensei em avisar caso você necessite urgente ir ao show dos caras depois de ouvir o disco.