Cercado de polêmicas e ansiedade, ANTI marcou o retorno de Rihanna depois de Unapologetic (2012). A cantora raramente tropeça em seus registros, mas há de se considerar que seus trabalhos possam ser apontados como efêmeros, como aliás tem sido boa parte da cena pop da atualidade.
Isto não é um questionamento à qualidade de seu trabalho, passa bem longe de ser um juízo de valor. Rihanna é um personagem ímpar nos últimos 10 anos e deixou sua marca ao imprimir jovialidade ao pop contemporâneo, mas algo soa estranho quando analisamos seus 8 álbuns lançados no período de 11 anos. É muito, até para o pop – e talvez justamente para o pop.
É inegável que ela é uma artista prolífica e inquieta, os números de lançamentos e sua presença na moda e no cinema são bons exemplos disto.
Em ANTI, ela continua fazendo seu exercício de mesclar produtores tarimbados e do underground, o que lhe confere uma sonoridade muito característica – e seu grande legado para a música pop. Ainda que Drake seja um dos principais nomes da música na atualidade, a presença dele na faixa “Work” é interessante, mas parece que possa ter resultado melhor a influência de Rihanna no cantor do que o contrário.
ANTI serve de ponto de ruptura entre a Rihanna que o público conhecia e o que poderemos ver dela daqui pra frente.
“Work”, primeiro single do disco, foi um dos grandes trunfos para o sucesso inicial de ANTI, mas é nas entrelinhas que reside a força do registro, especialmente no lado mais bruto e duro do LP – “Desperado”, “Woo” e “Needed Me” – e nas doses de romantismo – “James Joint”, “Kiss It Better”, “Never Ending”, “Yeah, I Said It” e “Same Old Mistakes”. Por sinal, é na versão da canção do grupo australiano Tame Impala no álbum Currents que encontramos o ápice do disco.
Olhar ANTI profundamente dá indícios de que Rihanna caminha para um cenário em que sua carreira mostrar-se-á mais madura, o momento em que ela encontra a dose certa de si para dar aos outros. Até por isso, ANTI é o primeiro de seus álbuns em que assina a produção executiva, além de participar da composição em todas as faixas. Sendo assim, serve de ponto de ruptura entre a Rihanna que o público conhecia e o que poderemos ver dela daqui pra frente.
Como o universo da música pop é ligeiramente indecifrável – o que hoje faz sucesso não era assim meses atrás –, fica a curiosidade de imaginar o que o futuro reserva para este álbum: eternidade ou esquecimento? Particularmente, arrisco que ANTI ficará (como já ficou em boa parte deste ano) em um meio termo na carreira da cantora: o disco de transição por qual todo artista pop com o mínimo de relevância passa, sem muito barulho, mas sempre lembrado pelo que representou.
Ouça ‘ANTI’ na íntegra no Spotify
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