Semana passada escrevi a primeira de duas partes sobre o que, em minha opinião, o leitor deve estar atento durante a edição 2015 da Corrente Cultural (leia aqui), evento realizado pela Fundação Cultural de Curitiba. Os Irmãos Carrilho, que se apresentarão na Praça da Espanha, no sábado, às 18h, e a doce Jenni Mosello, que se apresentará no Palco Ruínas, no domingo, às 14h, preencheram as linhas da Prata da Casa de quarta-feira passada.
Vale lembrar ao leitor que no Teatro Universitário de Curitiba, o TUC, a Fauno, um dos grupos mais interessantes da nova safra curitibana, e a Banda Gentileza, com seu novíssimo Nem Vamos Tocar Nesse Assunto, estarão mostrando todos seus riffs neste espaço, que já se tornou parte inerente da tradicional Canja de Viola.
Circuito CWB de Rimas
“Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro”. Vinicius de Moraes escreveu este verso em “Mensagem à Poesia”, poema presente no livro Antologia Poética, uma espécie de tentativa do autor em resistir a esta malandra poesia.
Para Arnaldo Antunes, uma das mentes que melhor compreendeu o quanto a música é uma extensão comunicacional, a origem da poesia se confunde com a da própria linguagem. Ao menos, foi assim que o cantor eternizou em “Sobre a origem da poesia”, texto do libreto do espetáculo 12 Poemas Para Dançarmos, dirigido por Gisela Moreau. “Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia?”, escreveu Antunes.
Dentre tantas coisas que pode nos oferecer, a Jamaica da década de 1960 trouxe de seus guetos o rap, essa convergência artística entre ritmo e poesia, mecanismo cultural de representatividade, por onde a periferia não necessita de permissão para “dar a real”. Esta que é tão distante das varandas que, em função dos “ardíficios artos”, não enxergam os “palacetes assobradados”, as casas “véias”. Por vezes, Curitiba parece fazer o mesmo.
Por sorte, o Circuito CWB de Rimas (confira aqui o evento do Circuito no Facebook), ação colaborativa surgida com o intuito de estimular a cultura do rap na cidade, uma produção do Escritório de Criação e Tertúlia Produções Culturais, estará presente na Corrente Cultural, fomentando, mais uma vez, o freestyle rap, que dia a dia ganha mais adeptos e espaço no movimento cultural periférico da “cidade modelo”.
As batalhas de MCs já estão enraizadas no DNA da capital por eventos fundamentais no contexto sociológico representado pelo movimento hip hop, como a Batalha do MUMA (obra do MC Rafael Asiatiko) e a Batalha da Cultura. Ainda que possa ser vista como um evento cultural menor, resquício do elitismo cultural ainda vigente, as batalhas de MCs e a presença de inúmeros eventos destinados à promoção da cultura hip hop deram a Curitiba o posto gratificante de melhor cena rap do país.
Enquanto escrevo estas linhas, eventos como o Ciclo de Leitura Ebulição Marginal, organizado pela jornalista e colaboradora de A Escotilha, Anna Carolina Azevedo, que entre 27 de julho e 1º de agosto deste ano realizou sua terceira edição, procuram identificar e evidenciar as conexões entre diferentes produtos culturais, entre eles o rap, o breaking e o graffiti. Luis Cilho, DJ, MC e produtor musical, o cérebro no comando da Tiranossauro REC, é outro a dar luz à ocupação cultural das mentes que abraçam essa cena underground.
O Circuito CWB de Rimas promoverá a etapa final de um projeto que começou em agosto, com a etapa realizada na Praça 29 de Março. Depois de 8 eliminatórias, nada mais justo que a concretização desta festa seja feita durante um evento que, mesmo sem contemplar a diversidade cultural da cidade de maneira justa e coerente, é o principal do calendário cultural de Curitiba. O vencedor terá faixa produzida pelo produtor e DJ Kbc, que acompanhou as etapas com seus beats.
O Circuito CWB de Rimas acontecerá no sábado, 07, às 13h, 15h, 17h e 19h, no Palco Ruínas. Não marque toca.