Trocando Em Miúdos: Vulnicura, novo disco da islandesa Björk, é um trabalho reconfortante, emocionante e que reafirma a identidade artística da cantora. / [rating=4]
Björk acaba de lançar um novo disco. Para uma artista com quase 30 anos de carreira, talvez pudesse ser apenas e tão somente mais um álbum. A verdade é que a cantora e compositora islandesa não tem presenteado seus fãs com bons registros, em especial nos últimos anos.
A artista é conhecida por sua capacidade de fazer simbioses entre os mais variados gêneros e utilizando inúmeros instrumentos e tecnologias. Seu papel como desbravadora no mundo da música é inegável, mas é sempre difícil saber qual a Björk que encontraremos. Se a hipnótica de Biophilia (2011) ou absurdamente instrospectiva de Volta (2007).
Dela tudo pode se esperar, seja no estilo, protagonizando a artista pop e rebelde, seja a cantora com um incrível controle criativo sobre cada ponto em sua obra, ou ainda a musicista geniosa que parece por vezes cantar e compor para si, num trabalho em que, nos shows, a única presença necessária é a de seu próprio ego.
Vulnicura, seu novo – e décimo – disco de estúdio, vazou algumas semanas antes de seu lançamento oficial. Como o propósito deste artigo é falar sobre o álbum, confesso que talvez para ela o vazamento tenha sido um fator positivo. O disco apresenta uma Björk muito mais humana e emocionalmente sincera ou, como classificou a Pitchfork, um CD com músicas sobre finais de relacionamento. Neste caso, sobre o fim do casamento entre ela e o escultor, fotógrafo e cineasta Matthew Barney.
“Dela tudo pode se esperar, seja no estilo, protagonizando a artista pop e rebelde, seja a cantora com um incrível controle criativo sobre cada ponto em sua obra, ou ainda a musicista geniosa que parece por vezes cantar e compor para si, num trabalho em que, nos shows, a única presença necessária é a de seu próprio ego.”
Composto por nove faixas, foi produzido, escrito e gravado pela artista, com colaborações do produtor venezuelano Arca (produtor de Yeezus do cantor Kanye West), que também se apresenta ao vivo com ela na atual turnê, e do músico britânico The Haxan Cloak.
Mas não espere de Vulnicura o mesmo que Cícero fez com Canções de Apartamento (também composto sobre o fim de um relacionamento). Björk vai além, narra a cronologia da tempestade sentimental deste momento conturbado, composto pela pré separação, o turbilhão de emoções no momento seguinte ao rompimento e a lenta recuperação emocional.
“History of Touches”, terceira faixa do CD, é talvez uma das melhores. Cantando delicadamente “I wake you up / In the middle of the night / To express my love for you”, a artista nos convida para viver de forma mais profunda toda sua ambição artística impressa no disco. É uma faixa triste e densa, característica esta última de toda sua obra.
Em “Black Lake”, a artista nos apresenta sua obra-prima. O instrumental, composto por batidas eletrônicas entrelaçadas com violinos, numa espécie de réquiem, demonstra como Björk (e apenas ela) é capaz de transformar uma música ao longo de suas linhas vocais e dos ápices instrumentais nos mais de mais de dez minutos em algo que queremos acompanhar. Do início ao fim. “I am bored of your apocalyptic obsessions / Did I love you too much?” canta, enquanto acompanhamos o desdobrar de sua musicalidade.
Vulnicura possui uma das maiores entregas vocais e sentimentais da artista, com arranjos equilibrados e que traduzem perfeitamente tudo que a cantora gostaria de passar, desde a angústia até o renascimento do orgulho próprio. Ela espremeu toda sua emoção para trazer um trabalho reconfortante que definitivamente reafirma sua identidade artística.