Nessa última semana, passei por uma daquelas crises que, cedo ou tarde, temos quando ligamos o som. Parecia que nenhum tipo de artista agradava, que os riffs eram todos iguais, a sensação de novidade era quase nula e que todo o acervo musical já havia sido explorado (mesmo que existam evidências que nem em três reencarnações conseguiríamos ouvir todas as bandas do mundo catalogadas no iTunes).
Foi então que uma amiga minha me apresentou ao quarteto sueco Blues Pills, que me pescou logo na primeira nota e me fez ouvi-los direto, sem pausa para nenhum outro tipo de som. E como toda banda sueca que se preze, eles eram incríveis.
![Foto: Divulgação](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2016/01/blues_pills_banda.jpg)
Formada em 2011, na cidade de Örebo, os Blues Pills são daquelas bandas atemporais, que não só sabem trabalhar muito bem o que há de melhor nas gerações que deram a alma do que hoje chamamos de rock n’ roll, como surgem de tempos em tempos no cenário musical.
Sua musicalidade une a agradável sensação de conhecer cada influência dos músicos em suas performances, com aquele prazeroso incômodo de parecer com vários hits que ouvimos, mas não conseguimos identificar. Isso faz com que cada faixa se passe facilmente por hits setentistas, podendo inclusive serem comparadas a nomes como Humble Pie e Free.
Liderados pela bela e jovem Elin Larsson, os excelentes Dorian Sorriaux (guitarrista), Zack Anderson (baixista) e André Kvarnström (baterista que substituiu Cory Berry, um dos fundadores) gravaram seu autointitulado álbum de estreia em 2014, com produção de Don Alsterberg, que já havia trabalhado com os também suecos do Graveyard. Apesar do nome pills, o álbum é uma cartela de música de gente grande sendo feita e tocada por jovens na casa dos 20 anos de idade. Esse detalhe faz ainda tudo ser ainda mais grandioso, enquanto o disco parece ser aquele vinil perdido na coleção que seu pai nunca te mostrou.
![Elin Larsson Foto: Divulgação](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2016/01/elin_larsson.png)
O álbum é uma cartela de música de gente grande sendo feita e tocada por jovens na casa dos 20 anos de idade.
O álbum, de capa sugestiva aos tons coloridos e ácidos da década, começa forte com a faixa “High Class Woman”, o cartão de visita dos jovens, com guitarras pesadas e cheias de distorção, dando base para o vocal perfeito de Elin, que transita entre os agudos de Janis Joplin com a potência de Aretha Franklin. Logo na sequência, destacam-se faixas “Black Smoke”, com um inebriante casamento baixo-bateria e riffs tão perfeitos quanto os de Jimmy Page em Led Zeppelin II, e “Devil Man”, que encantam qualquer mortal com a mostra da poderosa extensão vocal de Elin, atingindo notas que deixariam até Joss Stone com inveja – ou orgulhosa.
![Blues Pills, de 2014 Foto: Nuclear Blast](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2016/01/bluespills.png)
Para finalizar o disco, “Little Sun” traz a beleza de uma verdadeira faixa de Blues Rock, com tons psicodélicos do auge dos anos 60, e que inclusive lembra bastante “Stairway to Heaven” em sua melodia. As distorções claramente influenciadas pelo stoner rock atual, acrescentam uma leve modernidade ao disco, que se transforma na ponte perfeita entre o passado e o futuro.
O fato é que o álbum é uma pedrada tão forte na mente que é impossível descrevê-lo em sã consciência. O quarteto faz um ótimo trabalho quando se trata de cativar o ouvinte, produzindo uma imersão tão profunda em sua sonoridade que o resultado é uma vertigem prazerosa e inexplicável.
Os Blues Pills, assim como Rival Sons, são a reencarnação perfeita da atmosfera paz-e-amor em um corpo sadio e inspirador das faixas atuais, que faz sucesso com a crítica e com os fãs mais exigentes e saudosistas, mostrando para as novas gerações o que é música de verdade e qual a sensação de viver no tempo em que esse tipo de qualidade sonora era predominante no cenário.
Sem dúvida alguma, Blues Pills valem não só a chance de serem ouvidos como devem ser apreciados sem moderação alguma. Enquanto isso, nós esperamos ansiosos pelo segundo álbum, que vai trazer um quarteto mais maduro e uma Elin ainda mais poderosa com os microfones na mão.