Enquanto escrevo este texto, ou durante o momento em que você lê estas linhas, Cabes coloca sua mente a pensar, produzir, compor e criar. Se o rapper curitibano aparentava ter o “toque de Midas”, ainda que em Curitiba exista quem desconfie da cena mais profícua e inventiva do país, seu mais recente EP, O Tempo É Agora, parece confirmar.
Aparentemente não satisfeito com o que já obteve em sua carreira, o novo trabalho vai além e apresenta um MC que evoluiu e optou por abraçar outras referências. O trabalho de Cabes possui muito mais do que nossos olhos (e ouvidos) são capazes de captar, seja quando ele coloca sua sensibilidade não refinada a serviço da apresentação de seu cotidiano, seja quando ele insere peso para mandar a real.
Cada novo lançamento mostra seu potencial indubitável e constrói tijolo por tijolo a imagem de figura representativa do rap na cidade. Quando Cabes está com o microfone na mão, não há ninguém que faça música como ele faz. Poucos artistas possuem um sexto sentido tão aflorado quanto o rapper, que capta nuances e idiossincrasias da cidade que parecem estar a olho nu, e ainda assim não as vemos.
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Esta característica o coloca em uma rara categoria de artistas que conseguem ser inovadores, fugindo da imagem artificial de quem é moldado pelo mercado. Você pode até não gostar do que o MC faz, mas a verdade é que todos devem respeitá-lo pelo que ele representa e pelo que é capaz de apresentar. Cabes não dá ponto sem nó.
Quando Cabes está com o microfone na mão, não há ninguém que faça música como ele faz.
Entre as cinco faixas que compõem O Tempo É Agora, encontramos canções que são marcas registradas do músico. “Fica Comigo” – que conta com a participação de Willian San’Per, Titcho Looper (Damatz) e Allan Giller Branco (Plata o Plomo) –, “Fique Frio” e “Se o Amor Pudesse” – com participação de Ian Giller (Plata o Plomo) e Nenê Vianna – possuem em seus DNAs o gene já eternizado pela cadência de Ricardo Cabes. Apenas a última tem produção exclusiva do rapper, enquanto em “Fica Comigo” ela é dividida com o mestre Nave e em “Fique Frio” é produzida pelo gaúcho SwtJzzA, que acrescenta camadas de jazz e neo soul à faixa.
Já em “O Tempo É Agora”, que dá nome e abre o disco, e em “O Kit Faz Bang”, Cabes explode a caixa de som flutuando entre Tyler, The Creator e Mike G. Esses “intervalos” no que nos acostumamos a ouvir sair do microfone e das pickups do rapper desmistificam a existência de limites para o músico. Ricardo segue solidificando sua carreira respeitando uma premissa básica para qualquer artista: superar a si próprio. Se é uma tendência que se repetirá nos próximos lançamentos, fica difícil apontar. De toda forma, reforça seu “toque de Midas”. Cabes segue imprevisível, e como isto é fantástico.