O Fall Out Boy não era uma banda muito destacada naquela explosão emo ocorrida no início do século. Eles não eram tão deprê e megalomaníacos quanto o My Chemical Romance, não tinham os arranjos de corda elegantes do Panic! at the Disco e não chegavam perto do peso do Alexisonfire. O que eles tinham era um baixista/letrista de personalidade (Pete Wentz), um vocalista/compositor talentoso e simpático (Patrick Stump), músicas com títulos gigantes e as características mais importantes: ótimos refrãos e uma pegadinha punk pop apressada na medida certa pra agradar os corações dos millenials emo, tão urgentes quanto inseguros.
Foi nessa toada que eles chegaram ao grande público e estouraram mundialmente: os três primeiros álbuns (Take This To Your Grave, From Under the Cork Tree e Infinity on High) foram fonte de muitos sucessos, que levaram os estadunidenses ao topo da Billboard algumas vezes. Ótimos hits como “Dance, Dance”, “Sugar, We’re Going Down”, “Thnks Fr Th Mmrs” e “This Ain’t a Scene, It’s an Arms Race” tocaram tanto que garantiram discos de platina e estádios lotados por alguns anos.
Depois disso, pouca coisa na carreira do quarteto chamou atenção. Seguiram-se um álbum apenas bom (Folie à Deux), um hiato (2010-2012) e mais dois discos com pouquíssimos momentos brilhantes (Save Rock and Roll e American Beauty/American Psycho). Até que chegamos ao ano de 2018, com o lançamento de Mania, sétimo registro de estúdio do Fall Out Boy. Quinze anos após o lançamento do debute, a banda retorna com aquele que é, possivelmente, o maior erro de cálculo na trajetória até aqui.
Quinze anos após o lançamento do debute, a banda retorna com aquele que é, possivelmente, o maior erro de cálculo na trajetória até aqui.
Aliás, Mania tem algumas curiosidades em relação ao seu lançamento. A primeira é que ele estava previsto para setembro do ano passado, mas após dois singles, a banda resolveu adiá-lo para janeiro, alegando que o álbum “não estava pronto” e não era tão bom quanto eles gostariam. Outra característica curiosa é que o disco tem duas tracklists diferentes. Quando lançado, em 19 de janeiro, a versão digital do álbum trazia uma sequência para as faixas, enquanto a versão física apresentava outra. Agora (ou ao menos na última vez em que conferi no Spotify) os dois formatos têm a mesma ordenação: a original do disco físico.
Isso é uma tendência cada vez mais comum, aliás, e possibilita que os artistas enxerguem suas obras de forma mais “solta”, usando as ferramentas para permitir que os álbuns se tornem mais vivos e passíveis de alterações. Kanye West, por exemplo, alterou inúmeras vezes seu The Life of Pablo e até agora os fãs têm dúvidas de qual versão preferem. E essa jogada até pode funcionar: a impressão que eu tive, ao ouvir as duas diferentes tracklists, é que a atual desce muito melhor – talvez por não começar com a horrível “Young and Menace”.
É mais difícil comentar um disco cuja ordem de faixas não está fechada, e esse exemplo que acabo de citar deixa isso mais claro. “Young and Menace” como faixa de abertura simplesmente não funciona. A canção é uma incursão irritante do Fall Out Boy pelo EDM e seus famosos bass drops (basicamente, aqueles momentos em que a música pausa e volta com os graves mais marcados e pronunciados) e, ainda que pudesse ter sido totalmente limada na versão definitiva, incomoda muito menos como a penúltima peça do disco. “Stay Frosty Royal Milk Tea”, que agora abre Mania, também flerta com a música eletrônica mas é infinitamente melhor – tem um bom refrão e os vocais de Patrick Stump se destacam bastante.
O LP tem mais destaques negativos do que positivos, ainda que nada seja tão ruim quanto “Young and Menace”. “Hold Me Tight or Don’t” é uma espécie de adaptação (mais) fraca de “Shape of You”, grande hit de 2017 do Ed Sheehan. “Wilson (Expensive Mistakes)” fica no quase, com um crescendo que termina em um refrão totalmente esquecível. Já “Champions”, composta em parceria com a cantora e compositora Sia, não chega a ser ruim, mas deixa a impressão de que ficaria muito melhor se interpretada pela própria colega.
Mania é uma salada – e uma salada ruim. O passado pop punk/emo foi totalmente abandonado, mas o que poderia ser uma ótima saída acabou virando, no caso do Fall Out Boy, um equívoco tremendo. Me explico: é claro que mudar de direção pode ser muito positivo para uma banda, como foi para o Paramore com seus excelentes últimos dois discos. Mas aqui, enquanto isso, a melhor música de Mania é “The Last of the Real Ones” – a faixa mais Fall Out Boy do registro. O disco mostra uma banda sem uma direção definida, que atira pra todo lado na tentativa de se manter em evidência.
Isso pode dar certo comercialmente, claro, como já deu para várias outras estrelas. Mas musicalmente o resultado é decepcionante – e muito abaixo do que eles mesmos já fizeram.