Todo mundo sabe como surgiu o rock. Bem, talvez não. Num cenário ideal em que as influências da música popular se mesclaram com a herança da música negra, surgiu Elvis Presley e o mundo nunca mais foi o mesmo, podemos dizer, para simplificar a ascensão do gênero. Dali para os Beatles dominarem o mundo, foi um pulo. Hoje, fica até difícil lembrar como era a música antes da guitarra elétrica, antes da formação que hoje já se tornou clássica “baixo-guitarra-bateria” e das músicas de três acordes.
O rock teve um impacto diferente em cada país, mas sua associação com a contracultura e a rebeldia permanece, ainda que não tão forte quanto à época de seu nascimento. O rock foi música de protesto em vários países, mas seu papel na Argentina contemporânea foi particularmente essencial. E foi esse papel tão importante que serviu como motivação para que um grupo de pesquisadores de diversos lugares do país resolvesse que o rock merecia um congresso para discutir seus rumos, sua atualidade, sua importância seminal.
O rock foi música de protesto em vários países, mas seu papel na Argentina contemporânea foi particularmente essencial.
Esse fenômeno cultural, apesar do que possamos ou não pensar sobre ele, [highlight color=”yellow”]dialoga diretamente com a história política do mundo.[/highlight] Foi o rock que esteve no cerne do movimento hippie, que protestou contra a guerra do Vietnam, e que, mais tarde, esteve no cerne da contestação aos regimes autoritários argentinos.
Em suas letras, podemos ler as revoltas, os costumes que se modificaram, as mentalidades que mudam. Espelho da sociedade talvez à sua própria revelia, o rock é o desdobramento mais bem-sucedido da cultura jovem e acabou assimilando o discurso das camadas populares e se transformou em um elemento indispensável do mundo contemporâneo.
A pergunta que permeou muitas da mesas e painéis não envolvia apenas o cenário atual do rock argentino, ou mesmo suas bases e evolução, mas uma certa insistência em se pensar o rock hoje. Como lidar com o que se tornou o rock? O que é o indie enquanto gênero, está distante ou próximo da ideia de independência que esteve na gênese do movimento? As problematizações surgiram sem parar, principalmente quando o rock era pensado como um possível sintoma da colonização cultural dos países anglófilos.
Como deve se colocar o jornalista que escreve sobre música? Qual deve ser sua posição sobre o contexto em que surge um álbum ou uma banda? [highlight color=”yellow”]As perguntas são muitas, as respostas, porém, não são tantas.[/highlight] Como qualquer área de estudo que se preze, há um caminho muito mais produtivo nas tentativas do que naquilo que já está estático e absoluto.
O caminho e o legado que a discussão gerada na Jornada deixam é, sem dúvida, quanto à riqueza do estudo do rock enquanto gênero musical, coisa que no Brasil ainda se encontra muito distante da academia, talvez por ser sempre visto como um gênero de menor importância em comparação com os gêneros essencialmente brasileiros, como a MPB ou a Bossa Nova. Mas há, sem dúvida, muita potencialidade pouco explorada no campo, principalmente se pensarmos no Brasil dos anos 80 e no que significou historicamente a ascensão das bandas de Brasília naquele contexto, por exemplo.
O que sem dúvida chama a atenção é o ponto de organização em que se encontram as pesquisas sobre o tema na Argentina, talvez apenas comparável aos Estados Unidos, nação já célebre pela capacidade de institucionalizar e transformar em campo de pesquisa qualquer tema. Visto como patrimônio cultural indiscutível, o rock argentino – e, claro, por extensão o rock como um todo – teve seu funcionamento, sua estrutura e suas letras dissecadas de modo incessante ao longo desses quatro dias. Parte indissociável da história social coletiva, é difícil afirmar quais serão seus caminhos nos próximos tempos. Mas isso sequer é uma preocupação. Resta apenas saber, num mundo que experimenta mudanças cada vez mais drásticas e velozes, como é que o rock lidará com elas.