Lembro bem do dia em que descobri o City & Colour, há sete anos atrás. Eu ainda era um adolescente fã de música alternativa que passava mais tempo do que o recomendável procurando bandas novas quando ouvi “The Girl”, um dos clássicos de Bring Me Your Love (2008), segundo disco do trabalho solo de Dallas Green. Foi paixão instantânea e não exagero quando digo que os meses que se seguiram tiveram como trilha constante os discos dele. O tempo passou e segui revisitando especialmente Sometimes (2005), um daqueles discos que, ao passar dos anos, tornam-se um refúgio constante no meio das novidades que escutamos todos dias. Um mês antes do disco de debut do City & Colour completar dez anos, Dallas traz seu quinto álbum de estúdio com mudanças significativas no som que quebram, pela primeira vez, o próprio padrão.
Os quatro álbuns do City & Colour eram basicamente acústicos, com violão e alguma percussão acompanhando a voz suave de Dallas. If I Should Go Before You (2015) chega como a primeira gravação oficial em estúdio do City & Colour como uma banda. Na própria divulgação do disco, Dallas disse que a ideia foi gravar da forma mais fiel o que a banda tem feito em suas apresentações ao vivo, com os músicos da turnê, onde o lado acústico ganha tons de blues e mais guitarras. O resultado é exatamente esse, um disco mais agitado que os anteriores e que flerta constantemente com o blues e trabalhos guitar-based, como os de Kurt Vile, buscando um exemplo contemporâneo.
Se lá em 2005, Sometimes abria com a singela “… Off By Heart”, com menos de dois minutos de voz e violão, If I Should Go Before You começa com a canção que é provavelmente a mais pretensiosa do City & Colour até hoje. “Woman” é um épico de nove minutos onde Dallas repete uma única estrofe no meio de riffs que crescem e diminuem ao longo da faixa, com explosões ao lado de baterias ritmadas como manda o manual de um blues clássico. O próprio estilo de cantar de Dallas fica diferente nas músicas seguintes, com mais variações e menos sussurros como antigamente. Em vários momentos, o disco realmente parece uma gravação ao vivo, ao trazer para o estúdio os solos e outros detalhes que normalmente ficam guardadas para os shows.
Em vários momentos, o disco realmente parece uma gravação ao vivo, ao trazer para o estúdio os solos e outros detalhes que normalmente ficam guardadas para os shows.
Nas composições de Dallas, as letras mais românticas e emotivas dos discos anteriores parecem ter ficado em You+Me (2014), disco do projeto do músico com a cantora Pink lançado ano passado. Aqui as letras são mais introspectivas, como se o músico resolvesse olhar para si após anos cantando para outros. Ele questiona as sombras do próprio passado, seu caminho daqui pra frente e as pessoas ao seu redor, embora amores perdidos ainda circulem as histórias.
A quebra no padrão faz If I Should Go Before You se perder em alguns momentos, quando fica em um espaço entre o folk e o blues, sem se entregar completamente a algum lado. Dessa forma, o disco perde um pouco da alma que havia na música do City & Colour, da conexão poderosa do violão com a voz de Dallas. Ao escapar da delicadeza de antes e não mergulhar completamente na força do blues, o disco fica em uma espécie de área neutra que o faz, em alguns momentos, soar simples demais. Talvez seja um álbum de transição para um futuro de sons mais altos para o artista, talvez um passo dado com receio que exita em ser completado. No fim das contas é um bom disco, mas que dificilmente cativa com a força da década passada.