O rock and roll independente do Brasil vai muito bem, obrigado. E esse momento veio acompanhado da profissionalização de grande parte da cadeia produtiva da música, inclusive os estúdios. Junte isso a uma geração que cresceu ouvindo Black Sabbath, Captain Beyond e Pappo Blues, e mesclou com as raízes psicodélicas do Brasil e da América Latina e chegamos ao Cosmo Drah, disco homônimo dos paulistanos da Cosmo Drah.
Quem acompanha a cena independente brasileira sabe que eles não são ilustres desconhecidos. O quarteto formado por Ruben Yannelli, Anderson Ziemmer, e os irmãos Elton e Renato Amorim já dividiu palco com Os Mutantes e Tom Zé no Psicodália. Nada mal para um grupo que, apesar de 12 anos de estrada, possui apenas um EP e um full lenght.
Revisitar essa parcela da música pode até não soar como novidade, e longe de dizer que o é. Contudo, chama a atenção que o grupo opte por trabalhar suas canções em português, desmistificando que o hard rock, o blues rock e o rock psicodélico não combinariam com nosso idioma. Mas não se pode esquecer que isso ganha forma a partir de arranjos, timbres e letras muito bem trabalhadas, ao contrário de algumas representações caricatas dos gêneros que facilmente encontramos na música. E é aqui que a longa estrada da Cosmo Drah interfere positivamente na carreira do quarteto.
Os 7 anos que separam o EP do primeiro álbum completo mantiveram as influências em cada músico, as referências na sonoridade, mas foram sendo preenchidos com a maturidade que o palco traz, o que permitiu que o talento dos quatro integrantes aflorasse em faixas como a inebriante “Labirinto”, que abre Cosmo Drah, trazendo de volta a pureza rítmica de grupos como os cariocas da Sangue da Cidade, um dos grandes nomes do rock nacional na virada dos anos 70 para os 80 – e que curiosamente também contava com dois irmãos no elenco.
Os 7 anos que separam o EP do primeiro álbum completo mantiveram as influências em cada músico, as referências na sonoridade, mas foram sendo preenchidos com a maturidade que o palco traz.
A Cosmo Drah parece compreender que virtuosismo não é elemento-chave nas característica de uma banda, então apostam na crueza de riffs, solos que dispensam base e na cadência, capaz de oferecer as viradas jazzísticas de mestres da bateria como Bill Ward (Black Sabbath) e John Bonham (Led Zeppelin) em “Subversão” – menos no estilo e mais na técnica, que fique claro. O trabalho do baterista Renato Amorim segue em “Caos”, que já inicia comandada por seu kit.
O deslize do disco fica por conta de “O Poder”. Não se trata da faixa ser ruim, ela apenas não dialoga com as demais 10 canções de Cosmo Drah, destoando de um registro que, excetuando-se esta, é coeso. Por sorte, ela praticamente passa despercebida, principalmente pela coragem do grupo ousar em “Salamandrah”, indo de uma balada ao stoner rock de forma impecável, enquanto Renato torna a desfilar todos seus recursos.
Importante ressaltar que o quarteto paulistano faz toda essa incrível fusão de sonoridades acrescentando letras que tratam temas contemporâneos, inclusive de forma crítica. Para um gênero como o rock, tão criticado por seu distanciamento da realidade das pessoas, é agradável ouvir um grupo que acredita que é possível fazer música inteligente, acessível e pesada.
O disco da Cosmo Drah encerra em alto nível com “Roedor Renegado”, fechando um trabalho que custou anos, planos e sacrifícios, como o próprio grupo deixa registrado em um texto junto ao CD. “Fazer algo que queríamos ouvir é mais difícil do que se pensa”. Nada mais verdadeiro que essa afirmação. Ainda bem que deu tudo certo.
NO RADAR | Cosmo Drah
Onde: São Paulo, São Paulo.
Quando: 2004.
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