Os anos 90, musicalmente falando, foram anos de transição musical. O rescaldo das sonoridades da década de 1980, a tal década perdida, encontravam uma geração frustrada, economica e culturalmente falando. Ao longo de toda a década de 1990, assistimos diferentes vertentes e movimentos na música emergindo e desaparecendo, enquanto outros eram revisitados e ganhavam nova roupagem, a ponto de que hoje, 2017, ainda encontramos resquícios desta época em quase tudo que é feito.
No meio disso tudo, foi lançado no último dia 02, segunda, o primeiro álbum completo dos curitibanos da Floating Kid, uma não-continuação da Sitinglass. O trio composto por Caio, Zé Lucas e Bruno cria com Dust in Time, sucessor do EP Left, [highlight color=”yellow”]um pequeno estudo sobre trabalho com referências sonoras, sem a pretensão, no entanto, de criar um trabalho conceitual.[/highlight] Portanto, o disco do grupo funciona mais como o direcionamento do olhar à música dos anos 90 do que propriamente uma tentativa de compreensão do período.
Nas oito faixas que compõem Dust in Time, o ouvinte é levado pela mão a um passeio por uma obra que se propõe a orquestrar uma união entre o revival do punk-rock, o pop punk e o emo emergidos na referida década e pitadas do grunge, ainda que estas apareçam no registro mais no escopo estético em que está inserido (resultando em letras que visam estabelecer um diálogo com quem as ouve). Inevitavelmente, [highlight color=”yellow”]a Floating Kid age no inconsciente principalmente de quem viveu a época e é parte ou fruto dela.[/highlight]
Nas oito faixas que compõem Dust in Time, o ouvinte é levado pela mão a um passeio por uma obra que se propõe a orquestrar uma união entre o revival do punk-rock, o pop punk e o emo emergidos na referida década e pitadas do grunge.
O ar nostálgico criado pelo disco não se reflete na sua sonoridade. Ao invés de ser uma simples reprodução de arranjos e riffs, que tornaria a obra possivelmente (e provavelmente) datada, o trio do Floating Kid faz de suas influências um ponto de partida no estabelecimento de sua identidade sonora. E é aqui onde entra o estudo sobre trabalho com referências anteriormente citado.
Os riffs de Dust in Time não estão organizados em uma estrutura homogênea, mas sua heterogeneidade não resvala em cacofonia. Parece haver uma espinha dorsal que mantém o disco em pé e lhe confere individualidade frente ao amálgama de influências, ao mesmo tempo em que notamos a paridade do disco com o recorte temporal a que, despretensiosamente, prestam tributo. [highlight color=”yellow”]A despretensão age, justamente, pelo caráter íntimo e pessoal do trabalho.[/highlight] Essa pessoalidade garante uma proximidade ao ouvinte – quase numa espécie de identificação, um pertencimento a tudo que concerne esses sentimentos tão pungentemente expressos.
Maduro e conciso, Dust in Time enfrenta o tempo para trazer uma expiação ao que definiu uma geração que, hoje, é responsável por seguir adiante com tudo que já lhe aconteceu e criar novos fluxos e inflexões.