Robert Plant é um dinossauro. Um desses do mesmo calibre de Pete Townshend e Bruce Springsteen. Plant tem mais de 50 anos de uma carreira sólida, que começou da melhor maneira possível, ao lado de Page, Jones e Bonham numa das bandas que até hoje é considerada uma unanimidade, não apenas no que diz respeito ao rock and roll.
Fato é que desde os idos de 1970, quando o ainda jovem Robert Plant fez seu debut à frente do Led Zeppelin, ao artista multipremiado dos dias de hoje, foram muitos altos e baixos. O primeiro deles foi na década de 1970, enquanto ainda estava à frente do Zeppelin. Vítima de problemas envolvendo as cordas vocais, Plant teve que se submeter a uma cirurgia que, por mais que não tenha prejudicado o alcance e a potência de sua voz, definitivamente alterou seu timbre.
Os ouvintes mais sensíveis conseguem perceber essa diferença, que paira como se fosse um divisor de águas dentro da própria discografia da banda. Também ainda nos anos 70, o cantor sofreu um acidente de carro com toda sua família, que o tirou de circulação por vários meses, e em seguida perdeu seu filho Karac, durante uma turnê da banda em 1977.
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Esses fatos servem apenas para ilustrar que, apesar de ter uma vida pessoal atribulada, [highlight color=”yellow”]Plant jamais deixou a música em segundo plano[/highlight], apesar de ter cogitado se tornar professor depois do fim do Led Zeppelin, em 1980. O caminho dos anos 80 até os dias de hoje foi diverso, e começou com o lançamento do álbum Pictures at eleven, em 1982. Desde lá, Plant não parou mais, passando inclusive por uma muito bem-sucedida colaboração com a cantora de bluegrass Alison Krauss, no período de 2007 a 2008, que rendeu o premiadíssimo álbum Raising Sand.
Agora, o cantor está de volta com mais um álbum de canções inéditas, Carry Fire, lançado no último dia 13. Com 11 faixas inéditas, Plant, que não precisa provar nada a ninguém a essa altura da vida e da carreira, mostra que não perdeu nenhuma centelha do seu vigor criativo.
Plant, que não precisa provar nada a ninguém a essa altura da vida e da carreira, mostra que não perdeu nenhuma centelha do seu vigor criativo.
A segunda faixa do álbum, “New World…”, é um pouco mais enérgica que a faixa de abertura, mas ainda assim não destoa do conjunto. Com uma guitarra tão moderada quanto os vocais, [highlight color=”yellow”]Plant encontra o mérito na economia.[/highlight] Na verdade, o álbum vai crescendo até atingir a faixa-título, que é a mescla perfeita de todos os elementos presentes no disco, quiçá com uma guitarra que soa no meio do caminho entre o flamenco e o folk.
Tudo em Carry Fire é comedido, e ainda sim esbanja personalidade e coesão. Não se está falando aqui de um artista que ainda está à procura de sua identidade ou que não sabe exatamente para que lado pende seu som. Plant conscientemente se afastou do rock pesado e vibrante que esteve presente no começo de sua carreira para encontrar a medida em sons mais bucólicos e idílicos.
Há, claro, uma ou outra faixa um pouco mais enérgica que o conjunto, como é o caso de “Bones of Saints”, na qual a guitarra um pouco mais delineada acompanhada por uma bateria mais vibrante quase chega a iludir o fã mais entusiasmado do Led Zeppelin. Acompanhado desde 2012 pela banda Sensacional Space Shifters, vale a pena relembrar que Plant tem hoje 69 anos, produzindo música de qualidade e tocando em público, tudo isso numa indústria que pouca – ou nenhuma – afinidade tem com a velhice.
À exceção dos Rolling Stones, que já não se sabe mais se são adorados pelo legado ou pela ousadia de continuar na ativa, e de Paul McCartney, os artistas de idade mais avançada não possuem o mesmo apelo que os jovens, talvez porque a lógica cunhada pelo The Who nos idos dos anos 60 (hope I die before get old) ainda esteja em vigor.
Robert Plant, na capa do álbum, exibe sua figura envelhecida com orgulho e não parece ter nenhum problema com o fato de que soa diferente da maioria, pelo contrário, tudo em Carry Fire afirma que o tempo passa e que não, isso não é ruim, que envelhecer pode ter seus percalços, mas que também tem suas recompensas.