Desde que estourou nacionalmente com o vídeo de “Oração”, em maio de 2011, os curitibanos d’A Banda Mais Bonita da Cidade convivem com demonstrações de amor e ódio, especialmente no ambiente digital. Você dificilmente encontrará alguém em cima do muro, gerando discussões acaloradas sobre cada novo lançamento do quinteto.
Seis anos depois, o grupo contabiliza três discos completos, o último deles lançado no início deste mês. Muita coisa separa A Banda Mais Bonita da Cidade (2011) de De Cima do Mundo Eu Vi o Tempo, a começar pela maturidade dos integrantes. A sonoridade do registro atual também ganha com as guitarras de Felipe Ayres (Ruído/mm), que imprime doses sutis de experimentalismo, caso raro no indie pop proposto pelo grupo curitibano, que aqui se distancia um pouco do folk.
Um dos grandes valores d’A Banda Mais Bonita da Cidade foi, também, o grande desafio a ser superado para o novo lançamento. Acolhidos pela “geração S2”, a banda se estabeleceu dentro de uma linha pouco provocativa e inventiva, mas sempre condizente com o seu público.
Com discos muito bem produzidos, o quinteto pecava por narrar histórias excessivamente idealizadas de amor,
Falar principalmente de amor dava uma sensação desconfortante a quem os via de fora, como se os Ursinhos Carinhosos tivessem ganhado instrumentos musicais. Afinal de contas, como não gostar dos Ursinhos Carinhosos, não é mesmo? Mas foi isso que fez com que o grupo se tornasse ligeiramente asséptico, beirando a eterna efemeridade.
Com discos muito bem produzidos, o quinteto pecava por narrar histórias excessivamente idealizadas de amor, em que o eu lírico era construído a partir de arquétipos femininos que transitavam entre a vulnerabilidade e o etéreo. Até por conta disso, tanto o primeiro disco quanto O Mais Feliz da Vida, de 2013, oscilavam muito pouco. O resultado foram álbuns com um caráter homogêneo, que apesar de coerente, estava distante das capacidades dos envolvidos com o projeto.
De Cima do Mundo Eu Vi o Tempo é, de longe, a proposta sonora mais ousada d’A Banda Mais Bonita da Cidade, não apenas pelos arranjos, mas também na escolha dos compositores das canções presentes no disco. Não obstante, ainda há resquícios dessa zona de conforto, uma dificuldade de ir além nos temas abordados, ou ao menos na forma de retratá-los. O amor também pode ser ousado – ou uma forma de transgressão –, mas precisa sair dessa roupagem inofensiva.
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O flerte sonoro com riffs psicodélicos, progressivos e experimentalistas representou uma quebra saudável na trajetória do grupo, ao passo que trazer composições de músicos da nova safra brasileira, como o recifense Tibério Azul, o gaúcho Ian Ramil e os acreanos da Los Porongas, oxigenou as veias líricas da banda, que também seguiu a parceria com o curitibano Alexandre França, velho conhecido dos músicos.
Mesmo que não represente uma ruptura com a fórmula criada e mantida ao longo dos últimos anos, De Cima do Mundo Eu Vi o Tempo dá indícios de que os cinco integrantes estão cientes de que é preciso (e totalmente possível) ir além do que já foi feito. Resta saber até que ponto eles estarão dispostos a arriscar esse capital humano inerte da “geração S2”em direção a algo forte e marcante – obviamente, para além desta mesma geração.