Fundador da FLOW Creative Core e produtor do Sofar Sounds Brasil, juntamente com Juliana, Dilson e sua dupla reuniram no Secret Festival alguns dos registros mais interessantes deste ano. Curador de um festival que pretende passar distante do financiamento público, que em suas palavras, “além de escassos, envolvem uma burocracia enorme”, Dilson bateu um papo com A Escotilha sobre festivais, música, financiamento e muito mais. Confira também o que o Secret Festival 2014 trará a São Paulo e Curitiba clicando aqui.
A Escotilha: Na contramão dos grandes festivais, tanto o Sofar Sounds como agora o Secret Festival apostam num caráter mais intimista, em estabelecer pontes entre os artistas e o público. Também é uma forma de mostrar que a música importa?
Dilson Laguna: Com certeza, nosso objetivo é ressignificar a experiência em música ao vivo, aproximando público e artista e criando um ambiente em que a música é protagonista. Da mesma maneira que o público tem uma experiência diferente do show ao vivo, os artistas também se veem em uma situação atípica, se apresentando nesse formato em que tem atenção total da galera presente, com a música em primeiro lugar.
Na Europa é bem comum que os festivais sejam pontos de encontro, já que muitos acontecem durante a primavera e o verão, aí acabam sendo pretexto para encontrar os amigos. Ou seja, a música aqui age como um agente agregador. Agora, isso também é possibilitado por uma maior abertura musical. Como funciona a curadoria neste sentido, em que nós brasileiros somos “extremistas musicais”, como define o jornalista Marcelo Costa? Vocês conseguem trabalhar o ecletismo musical, ou precisam focar em um perfil específico de público?
Acredito que estamos em um momento de transição na música com relação a estilos, com as pessoas consumindo música de maneira muito mais eclética, os moods ganhando mais relevância que gêneros musicais em si. Se dermos uma olhada no Spotify, por exemplo, que é a maior plataforma de streaming do mundo, além de ser o player oficial do Secret Festival, as playlists de gêneros específicos estão lado a lado de temas mais genéricos, como por exemplo “manhã de domingo”, em que você encontra folk, jazz e MPB, tudo misturado, ou “música pra malhar”, com rock, pop, eletro. Acredito que isso é muito benéfico pra toda a cadeia produtiva musical porque estamos falando de públicos antes isolados agora se cruzando e se multiplicando. No Secret Festival vamos reunir diversos estilos diferentes, mas que de uma maneira ou outra se comunicam entre si.

‘O brasileiro tende a ser muito conservador com consumo, em geral prefere o que já é mais familiar que a novidade.’
Uma rápida análise sobre os line-ups dos principais festivais do mundo e a gente nota rapidamente como eles se parecem cada vez mais iguais. Como funciona ser essa antítese cultural?
Não é fácil fugir do tradicional, e comercialmente falando é bastante arriscado, porque o brasileiro tende a ser muito conservador com consumo, em geral prefere o que já é mais familiar que a novidade. Sobre o Secret, por exemplo, a própria imprensa acaba estranhando o fato de não informarmos o endereço do evento e acabamos com dificuldade pra divulgar o festival nas mídias tradicionais. Ao mesmo tempo, tem um público carente por iniciativas que sejam inovadoras e que proponham experiências diferentes. O que queremos é chegar até essa galera e instigar os mais conservadores, realizando shows de novos artistas que primem pela excelência, originalidade e autenticidade, e mostrando o quão artisticamente rico é o momento que vivemos, tanto na música do Brasil quanto de fora.

Em Curitiba, muitos dos produtores de shows têm ficado no vermelho, alguns chegam até mesmo a desistir de investir em produção. A cidade fica constantemente fora dos roteiros de grandes shows nacionais e internacionais. A cidade há anos não tem um festival fixo. Com um cenário aparentemente tão inóspito, por que apostas em uma edição na cidade?
Para o Sofar Sounds, Curitiba é a cidade que mais tem crescido em demanda de público, acho que justamente pelo cenário de produção local estar meio desanimado. Pra gente, que é de fora, é interessante ver iniciativas independentes se multiplicarem pela cidade, como a Arnica Cultural, a FIMS (Feira Internacional da Música do Sul), que estreou neste ano, e o Tijucão Cultural. A gente acredita muito na cena cultural da cidade e quer humildemente também contribuir pro cenário, criando experiências e eventos interessantes pra galera, e levando apresentações inéditas, como faremos no Secret, que leva TOPS, Mahmundi e Lumen Craft pra se apresentarem pela primeira vez por aí.
‘A gente acredita muito na cena cultural da cidade e quer humildemente também contribuir pro cenário, criando experiências e eventos interessantes pra galera.’
Dá para sobreviver fazendo shows e organizando festivais no Brasil sem financiamento público?
Dá, com certeza. Nosso modelo de negócio prevê receitas diversificadas e desenvolvimento de parcerias com marcas que se identifiquem com nosso conceito e queiram conversar com nosso público, como por exemplo a cerveja Sol e Spotify, que estão conosco no Secret Festival. Não queremos depender de recursos oriundos do governo, que além de escassos, envolvem uma burocracia enorme.
Ir na mão dos grandes festivais e dos grandes artistas do mainstream é um ato de resistência e, ao mesmo tempo, um ato político?
Não temos nada contra o mainstream e os grandes festivais. A nossa proposta é olhar pra frente, pro que há de novo, pro que está por vir, e ser a diferença que queremos ver no nosso universo cultural. Acho que existe muito espaço para inovação dentro da música brasileira, seja nos processos de produção, na organização de festivais ou nos modelos de negócios, e nunca subestimamos a inteligência do público – muito pelo contrário, queremos justamente oferecer conteúdo pra essa galera e contribuir ara criar um cenário alternativo relevante e forte.
SERVIÇO | Secret Festival 2016 – São Paulo (4ª edição)
Quando: Domingo, 06 de novembro, a partir das 14h;
Quem: Atrações — TOPS, Charly Coombes, Mahmundi, Carne Doce, Lumen Craft e Terno Rei;
Onde: Local secreto / 2 mil lugares;
Quanto: Ingressos — R$ 70 (primeiro lote)
Como: À venda em www.secretfestival.com.br
Censura livre
• Secret Festival 2016 – Curitiba (1ª edição)
Quando: Sexta, 04 de novembro, a partir das 20h;
Quem: Atrações — TOPS, Mahmundi, Trombone de Frutas, Lumen Craft e Tuyo
Onde: Local secreto / 600 lugares
Quanto: Ingressos — R$ 70 (primeiro lote)
Como: À venda em www.secretfestival.com.br
Censura livre