Lançado há pouco mais de um ano, Dirty Projectors, foi um disco em que o gênio criativo de Dave Longstreth se sobressaiu mais do que de costume. Álbum que tematiza não apenas uma separação, mas o momento do término, e que olha a relação em retrospecto, a mistura de experimentação sonora e letras extremamente pessoais fez com que a audição fosse muito particular, apesar de interessante. É provável que o mesmo possa ser dito do novo álbum do Dirty Projectors, Lamp Lit Prose, lançado no dia 13 de julho, e que possui algumas similaridades com seu antecessor direto, apesar de soar um pouco mais leve e mais alegre em muitos momentos.
Muito do que figura na tessitura do disco anterior se encontra presente aqui, e faz com que nos perguntemos imediatamente se tudo que foi incorporado antes passou a fazer parte de maneira definitiva do repertório sonoro da banda. A influência do hip-hop continua clara, porém com toques definitivamente mais pop e um pouco menos introspectivos e, certamente, muito mais dançantes.
Mais politizado e menos amargo, Lamp Lit prose já começa com “Right Now”, uma faixa que exala o que vai ser o tom do disco como um todo. Oscilando entre o instrumental eletrônico e as claras referências ao hip-hop, a música não soa hermética e, sim, palatável, otimista, ainda que a tônica das letras do álbum, de modo geral, não deixem de ecoar o triste cenário político que se desenha mundialmente.
A partir da primeira faixa, o disco se converte numa audição fácil, apesar de, por vezes, termos a sensação de que Dave Longstreth atira para todo lado e mistura todos os elementos sonoros que já passaram pela sua frente.
A partir da primeira faixa, o disco se converte numa audição fácil, apesar de, por vezes, termos a sensação de que Dave Longstreth atira para todo lado e mistura todos os elementos sonoros que já passaram pela sua frente, incluindo ruídos de origem completamente inusitada, como os que compõem o fundo de “Blue Bird”. O resultado, porém, não soa apenas harmonioso e coeso, como faz sentido musicalmente e parece, em comparação com o álbum imediatamente anterior do grupo, como uma obra feita por alguém que acredita na redenção.
Dave Longstreth, aparentemente, voltou a acreditar no amor, e a crença de que dias melhores virão parece estar nas entrelinhas de canções como “I Found it in U”. O mundo pode não estar passando pelo seu melhor momento, mas a sensação que se tem ao chegar ao final de Lamp Lit Prose é que tudo vai ficar e que, sim, podemos superar as adversidades.
Se a carreira da banda até o momento não havia sido suficiente para inclui-la no rol de grupos mais interessantes em exercício, definitivamente Lamp Lit Prose deve fazer isso. Bem pensado enquanto obra, coeso musicalmente e original, é um trabalho de qualidade indiscutível.