A chuva e o frio moldam o caráter e os riffs do Paraná ao Rio Grande do Sul, especialmente em Curitiba e em Porto Alegre, capitais de seus respectivos estados, onde o clima é fator preponderante à formatação da identidade de seus cidadãos. Contudo, algo distingue bastante a capital paranaense da gaúcha. Enquanto Porto Alegre tem uma relação muito forte com os países do Prata (Uruguai e Argentina), Curitiba encontra em suas origens cidadãos de países mais introspectivos, refletindo na cultural e, especificamente, na música.
Os anos 90 foram mágicos para a cidade. Poucos lugares no Brasil podiam se vangloriar de possuir tantas bandas de garagem por metro quadrado como Curitiba. Não à toa, Carlos Miranda escreveu na extinta Bizz: “Curitiba é a Seattle brasileira”, em referência à explosão de bandas com o despertar do grunge na cidade norte-americana. Foram anos esperando uma espécie de chamado, como se precisássemos que um dos integrantes daquela geração estourasse nacionalmente para que tudo, de alguma forma, se tornasse verdade. Wilson Bueno chegou a dizer que [highlight color=”yellow”]“Curitiba é a Seattle brasileira, mas só nós sabemos disto”[/highlight]. Houve quem torcesse o nariz para o escritor, mas a constatação de Bueno tinha sentido: tudo esteve muito à flor da pele, mas o caldeirão parece nunca ter entornado.
“Curitiba é a Seattle brasileira, mas só nós sabemos disto.” Wilson Bueno
Mas e se a cena musical curitibana coubesse em um livro? Eis que é chegado o momento de descobrir o quanto da música local coube em pouco mais de 500 páginas de Uma Fina Camada de Gelo: O Rock Autoral e a Alma Arredia de Curitiba, fruto de quatro anos de pesquisa do advogado e músico Eduardo Mercer. Sua obra, a primeira do gênero produzida e editada comercialmente na cidade, foi lançada hoje no final da tarde na Livraria Arte & Letra, mas tem mais dois eventos programados – um para amanhã e outro para sexta, ambos no Jokers Pub.
Com passagens por diversos grupos, Mercer usa Uma Fina Camada de Gelo para tentar dissecar o que foi o rock para a cidade ao longo de quase 30 anos – a linha de corte do escritor foram as bandas surgidas até 1996, ainda que sejam citados alguns artistas da nova geração. O ponto-chave da pesquisa foi o Curitiba in Concert, evento realizado no fim de 92 e que reuniu diversas bandas dos circuitos locais. Contudo, para falar com propriedade sobre o período que levou a cidade até o apelido, ideia inicial de Mercer, o autor precisou recorrer à história e falar sobre grupos como A Chave, Blindagem e Contrabanda.
Há espaço, também, para analisar se os grupos tiveram sucesso ou se a lenda da maldição curitibana é uma realidade. Com um caráter muito particular, estético e linguístico, os grupos de Curitiba e sua “alma arredia” tiveram, à sua maneira, sucesso, ao menos é o que defendem alguns. Afinal de contas, sucesso é algo definitivamente subjetivo.
BANDAS HISTÓRICAS CELEBRAM LANÇAMENTO DO LIVRO
O Jokers recebe amanhã e sexta shows das bandas Maxixe Machine, Intruders, Krappulas, Tessália, Sr. Banana & Black Maria e Relespública. Intruders e Sr. Banana, ambas dos anos 90, e Tessália, dos 80, que já não estão mais em atividade, juntaram-se especialmente para a festa de lançamento do livro. Os ingressos estão à venda no Sympla e no Jokers. Há pacotes para um ou dois dias que incluem o livro.
SERVIÇO | Lançamento ‘Uma Fina Camada de Gelo: O Rock Autoral e a Alma Arredia de Curitiba’
Onde: Jokers Pub | R. São Francisco, 164
Quando: dias 26 (Maxixe Machine, Intruders e Krappulas) e 27 (Tessália, Sr. Banana & Black Maria e Relespública), quinta e sexta, a partir das 21h;
Quanto: R$ 30 (promocional 1 noite); R$ 70 (promocional 1 noite + livro); R$ 50 (promocional 2 noites); R$ 90 (promocional 2 noites + livro) – os bilhetes estão à venda no Jokers e na plataforma Sympla;
Informações: https://www.facebook.com/FinaCamada/ | Jokers Pub – (41) 3013-5164.