Há quem os anos de estrada transformam em um organismo duro, pouco maleável, de raciocínio curto. Mas há, também, os que, mesmo depois de 16 anos como vocalista de um dos bons grupos da safra dos anos 2000, ainda seja capaz de concatenar ideias de forma, ao mesmo tempo, lógica e ilógica, em um jogo de cena que não se sustenta no guiar o ouvinte por uma estrada óbvia, e acredita nele a ponto de não subestimá-lo – e tampouco abraça o pedantismo. Este é o caso de Felipe S., vocalista da banda Mombojó.
Felipe S. apresentou neste início de 2017 seu primeiro trabalho solo, curiosamente chamado de Cabeça de Felipe. O álbum e suas dez canções mostram um artista que faz de sua veia experimental o combustível desta expedição ao âmago de seu ser.
O disco é distribuído pelo selo Joia Moderna, do DJ Zé Pedro, conhecido do público por suas participações em programas da apresentadora Adriane Galisteu, e que abriu uma gravadora justamente com foco em talentos da MPB – ainda que o conceito de emêpebe tenha variado tanto ao longo dos anos.
A inventividade de Felipe S. parece não encontrar limites. Desta mente em constante ebulição brotam projetos como o Del Rey, que reinterpreta canções de Roberto Carlos, e parcerias como a com a francesa Lætitia Sadier, marcada pela icônica banda Stereolab. Cabeça de Felipe conta com a participação da atriz Juliana Didone e de Ana Maria Maia, esposa de Felipe – além da incrível capa produzida pelo artista plástico Maurício Silva, pai do cantor. Somam ao projeto, ainda, as figurinhas recorrentes na carreira do músico, como China, Tibério Azul e Vitor Araújo.
Várias coisas podem ser ditas sobre Cabeça de Felipe. Entre elas, apontaria a delicadeza com que o cantor constrói um registro a partir de várias fusões, recortes de ritmos e gêneros que estabelecem um mapa sonoro das referências que compõem Felipe enquanto artista e ser humano. Por isso, torna uma tarefa ingrata a quem deseje rotular o trabalho do músico, já que todas as melodias, apesar de um eixo comum, dizem respeito a um momento muito particular desta viagem à sua mente.
Várias coisas podem ser ditas sobre Cabeça de Felipe. Entre elas, apontaria a delicadeza com que o cantor constrói um registro a partir de várias fusões.
Até por conta disso, por vezes Cabeça de Felipe soa como um constante de fluxo de consciência do cantor, entremeado por outras nuances que fazem parte de sua pluralidade artística. Não estranhe se inicialmente a obra soar caótica.
É resultado da junção de fragmentos soltos que vão se revelando (e desnudando) ao longo das audições, em especial quando estamos conectados e em sinergia com a música que emana do trabalho de Felipe S. Exemplos são faixas como “Vão”, “Santo Forte” e “Anedota Yanomami”, que só poderiam encontrar a goma que as unisse no talento do pernambucano.
2017 tem sido um ano de bons frutos para a música nacional e Cabeça de Felipe entra para esta boa lista de lançamentos que tentam, mesmo que sem pretensão, traduzir essa geração que cresce (e amadurece) entre barulhos e silêncios.
NO RADAR | Felipe S.
Onde: Recife, Pernambuco.
Quando: 2017.
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