Em um de seus poemas mais famosos, Charles Bukowski diz que “O que mais importa é o quão bem você caminha através do fogo”. Trata-se da habilidade de sair dos piores momentos de cabeça erguida, perceber que é nos momentos mais difíceis que realmente mostramos quem somos. Em um dos auges emocionais de Positive Songs For Negative People, sexto disco de Frank Turner, o inglês canta sobre uma mensagem final de uma astronauta que está perto de morrer, e nela ele ressalta o lado bom de tudo isso. Ela viveu, viu coisas incríveis e perdeu a disputa no final, mas valeu a pena.
Em vários outros momentos do disco, Turner repete essa ideia. “God damn, it’s great to be alive!” (em “Demons”); “We’re not dead yet!” (em “Get Better). Depois de anos cantando dramas, tragédias e corações partidos, o punk inglês descobriu que a vida pode ser melhor – mesmo quando os dramas continuam nela, basta mudar o ponto de vista. Canções positivas para pessoas negativas, um nome mais apropriado impossível para a poderosa obra de 39 minutos e 12 músicas de folk-punk de arena do ex-líder do Million Dead.
Positive Songs For Negative People é uma sequência clara de Tape Deck Heart (2013), aclamado disco em que Frank Turner coloca pra fora com gritos e muita velocidade uma explosão de sentimentos após uma desilusão amorosa. “Broken Piano”, última faixa do disco anterior, encerra contando a história de um personagem que faz tristes serenatas na beira do rio Tâmisa e que “quebra todas as suas chaves”. “The Angel Islington”, canção que abre o novo álbum, continua a saga do mesmo personagem cantando que, na beira do Tâmisa, ele percebeu que era hora de recomeçar e consertar todas as partes quebradas.
“Depois de anos cantando dramas, tragédias e corações partidos, o punk inglês descobriu que a vida pode ser melhor – mesmo quando os dramas continuam nela, basta mudar o ponto de vista.”
Em seguida, Turner solta a bomba que dá a cara do álbum: “Get Better”. Primeiro single e música definitiva dessa nova fase do cantor. A música é um chute na porta, um soco no peito e um grito dizendo que, enquanto você estiver vivo, você pode melhorar a situação. “The Next Storm” vem logo depois para fechar o trio de abertura do disco, com Turner bradando que prefere encarar de frente a próxima tempestade do que ficar dentro de casa esperando ela passar.
Se em Tape Deck Heart escutávamos músicas como “Plain Sailing Weather”, em que ele cantava que conseguia arruinar qualquer dia bom, aqui vemos o inglês levantando a cabeça e tentando consertar todos esses dias que estragou – e fazendo o possível para aproveitar os que vêm pela frente. É uma verdadeira sessão de auto-ajuda, baseada no conceito que o ator conterrâneo de Turner, Stephen Fry, citou em uma entrevista certa vez: parar de sentir pena de você mesmo é o melhor caminho para a felicidade. É um disco sobre fazer as pazes com os seus demônios e encarar a vida de peito aberto.
Musicalmente, Positive Songs não foge do que estamos acostumados a ouvir de Frank Turner. É rápido, explosivo e sincero ao extremo. Com seu inseparável violão e a banda de apoio, os Sleeping Souls, ele faz folk-punk pra ser cantado por multidões a plenos pulmões. Na versão deluxe do disco, lançado em agosto, todas as faixas ganham uma versão acústica e soam tão bem quanto nas versões originais.
Turner sempre teve um dom para evocar algo a mais em seus ouvintes. Seus shows são catárticos e sua música faz arrepiar, empolga e vai fundo dentro dos fãs. Aqui a história não é diferente, e o conteúdo do álbum faz deste um daqueles discos para carregar sempre perto. Na rotina fria, uma porrada como “Get Better” pode ser bem vinda na vida de muitos. É música que extrapola a dura estrutura de acordes, faz sentido e traz sentimentos.