A história do White Stripes e, por extensão, de Jack White para a grande maioria das pessoas, em especial o público brasileiro, começou com o lançamento do hit “Seven Nation Army”. Parte integrante do quarto disco de estúdio da banda, a música foi um sucesso instantâneo e alçou o duo a um patamar distinto. Nesse ponto, Jack White e sua parceira, a baterista Meg White, já estavam em atividade desde 1999. Envoltos numa aura de mistério a respeito de sua relação, a banda lançou um total de seis álbuns de estúdio e um ao vivo e cativou um público apaixonado e fiel.
Desde o começou, dos figurinos à linguagem visual dos álbuns e videoclipes, o White Stripes se mostrou como uma banda que possuía claramente um projeto estético direcionado e uma concepção objetiva de como tudo deveria soar e parecer. Misturando influências do melhor do blues americano com um rock de viés setentista, o White Stripes conseguiu unir comercial e conteúdo, tudo devidamente envolvido em papel de bala listrada.
Com o fim da banda, o cantor continuou sua trajetória de sucesso. Fosse no The Raconteurs ou no Dead Weather, nada parecia ser um desafio grande o suficiente para o cantor e guitarrista. Em 2012, alguns anos após o fim do White Stripes, Jack White lançou seu primeiro disco solo, Blunderbuss, e viria também a lançar Lazaretto, em 2014, ambos trabalhos interessantes e de qualidade. Com certa regularidade, Jack White segue lançando material inédito e sendo associado ao que há de mais retrô nas tendências da indústria musical contemporânea.
O último álbum do cantor e guitarrista, lançado em março desse ano, mostra que a fórmula que parece ter garantido seu lugar e sua permanência ao sol durante tanto tempo, pode ter se perdido.
Morador de Nashville, no Tennessee, White é um entusiasta do som de vinis e chegou inclusive a entregar sua declaração de imposto de renda gravada em um. O que, no entanto, sempre fez a fama do músico e funcionava para o grande público como um apelo estético, aparentemente, vem se desgastando. O último álbum do cantor e guitarrista, lançado em março desse ano, mostra que a fórmula que parece ter garantido seu lugar e sua permanência ao sol durante tanto tempo, pode ter se perdido.
Confuso e sem direcionamento, com letras que soam pouco inspiradas, Boarding House Reach é uma mistura estranha de muita coisa que White já gravou, mas com ênfase em seus piores momentos. Sem coesão e soando quase como se tivesse sido gravado a esmo, Boarding House Reach parece um amontoado de faixas estranhas em que o talento de White é completamente obscurecido pelo seu gosto por sonoridades estranhas e pelas opções ainda mais esquisitas de harmonização. Nem de longe soa como o homem que gravou alguns dos melhores blues dos anos 2000, muito menos como alguém que esteve durante tanto tempo à frente do White Stripes, uma banda que sem dúvida deixou sua marca na história da música contemporânea.
Tão ruim e confuso é o resultado final que é difícil apontar mais de uma faixa que se destaquem no grupo. A única exceção é “Connected by love”, música de abertura e a mais palatável do disco. De resto, fica o questionamento sobre o que exatamente passava pela cabeça do músico para lançar um trabalho tão fora da curva.