Marvin Gaye foi casado com Anna Gordy, cunhado portanto, de Berry Gordy, o chefão da gravadora Motown. Quando se divorciou de Anna, no final da década de 1970, Marvin Gaye estava no fundo do poço e falido. Não tinha dinheiro, sequer, para pagar a pensão do filho pequeno. Cheirava o equivalente a um carro popular novinho por mês. Sem ter muitas opções para evitar a prisão do astro, o advogado de Gaye fez um acordo com Anna.
Mas, antes de falarmos sobre o trato, vale lembrar que Gaye foi um dos primeiros grandes astros da lendária gravadora Motown. Este nome é a redução da expressão “Motor Town”, e se deve à origem da empresa: Detroit, a cidade que foi um dos maiores centros da indústria automotiva no mundo.
A Motown foi fundamental na consolidação de artistas negros no grande mercado fonográfico que se formou a partir do final da década de 1950 até o surgimento do hip hop. E Gaye foi a estrela maior deste universo.
O Trato era o seguinte: Marvin gravaria um disco e dividiria os royalties com ela. Assim nasceu Here, my dear, lançado em 1978. O resultado do álbum no mercado não foi equivalente ao dos adiantamentos entregues à Anna. A crítica também não reagiu com muita animação. De qualquer forma, Gaye, que em 1984, aos 44 anos, seria assassinado a tiros pelo próprio pai, criou um dos mais avassaladores registros musicais sobre o fim de um casamento.
O clímax deste disco, na opinião de muitos, está já no início, com as faixas “Here, My Dear”, “I Met a Little Girl” e “When Did You Stop Loving Me, When Did I Stop Loving You”. Na minha opinião, esta última, é, sim, o melhor momento de Here, my dear. Gaye foi um mestre em transformar harmonias básicas em estruturas sonoras elegantes, com um groove inconfundível, sensual, às vezes meio repetitivo, mas que, curiosamente, produz um efeito hipnótico a cansativo. Genial, enfim.
A Motown foi fundamental na consolidação de artistas negros no grande mercado fonográfico que se formou a partir do final da década de 1950 até o surgimento do hip hop. E Gaye foi a estrela maior deste universo.
“Doce, calmo, sedutor e um pouco chato”, assim foi descrito Here, my dear em uma crítica, na época. Jay Kay, do Jamiroquai, nos anos 90, diria que a obra é “a mesma canção sendo tocada de dez maneiras diferentes”. Pode ser. E dependendo do ponto de vista, isto tudo pode ser um ótimo estímulo para se conhecer um pouco mais, pela audição deste álbum, sobre este fantástico expoente da back music.
No início dos anos 80, Gaye se isolou. Deprimido, mudou para a casa dos pais. Entre ameaças de suicídio e muitas brigas com o pai, o pastor evangélico Marvin Pentz Gaye Senior, o astro da Motown ainda daria ao mundo o super hit “Sexual Healing”. A música alcançou o número um na Billboard Hot R&B Singles, tendo permanecido na lista por 10 semanas; e ainda foi premiada com um Grammy Award em 1982.
A respeito da morte trágica de Gaye, sobre a qual rapidamente falamos no início do texto: no dia 1 de abril de 1984, um dia antes de completar 45 anos, Gaye foi assassinado pelo próprio pai, após mais uma briga. A tragédia foi provocada por uma discussão relacionada com a perda de documentos de negócios. Um dos maiores talentos da história moderna da música mundial foi morto por uma arma calibre 38, que a própria vítima havia dado de presente ao pastor e pai assassino. Irônico? Alarmante? Pois é.
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