Há 50 anos, o mundo passava por transformações sociais e culturais tão significativas que seus impactos são repercutidos até os dias de hoje. Nas últimas semanas, jornais e portais vêm publicando reportagens especiais sobre os protestos na França em maio de 1968, organizados por estudantes que pediam por reformas no setor educacional e evoluíram ao ponto de uma greve geral dos trabalhadores. Outro acontecimento marcante e relembrado foi o assassinato de Martin Luther King Jr., nos Estados Unidos.
No Brasil, o Ato Institucional nº 5 era promulgado e o velório do estudante Edson Luís, assassinado pela Polícia Militar durante um protesto no Rio de Janeiro, se transformava em um dos maiores atos políticos contra o regime militar.
Mas, como o assunto da coluna é música, é disso que iremos falar. E quando se trata de música em 1968, é preciso voltar ao ano anterior, um estopim cultural.
Festivais de MPB foram o berço da Tropicália
No fervor dos festivais de música brasileira exibidos pela TV, em 1967, a Tropicália, um dos maiores movimentos culturais da história do Brasil, considerada como um retorno do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade, dava seu pontapé inicial. A sua sonoridade era uma mistura, principalmente, do brega, do rock psicodélico e da música erudita, marcada pela combinação de guitarras elétricas com o violino e o berimbau.
Essas características são predominantes no álbum Tropicalia ou Panis et Circencis, lançado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé em 1968 (mas isso já é assunto para um futuro artigo).
É praticamente impossível se controlar e abordar pouco o assunto nesse que foi um período muito rico e marcante para a cultura e a sociedade.
O lançamento de “Alegria, Alegria”, canção do álbum homônimo de Caetano publicado no mesmo ano, e “Domingo no Parque”, de Gil, são considerados como marcos iniciais do Tropicalismo.
Carregadas de guitarras e com um quê de psicodelia, as canções foram precursoras do que seria predominante na música tropicalista, que seguiu até o ano de 1969, quando a dupla foi presa pelos militares e, posteriormente, mandados ao exílio no Reino Unido.
A terceira edição do Festival de Música Popular Brasileira, “o festival da virada”, em 1967, foi importante para a consolidação de artistas tanto do movimento, quanto da MPB de um modo geral. O tímido Chico Buarque, que no ano anterior havia sido vencedor do mesmo festival com “A Banda”, apareceu com uma de suas mais emblemáticas canções.
“Roda Viva”, do álbum Chico Buarque de Hollanda — Volume 3, terminou o festival em terceiro lugar, com uma apresentação marcada pela euforia do público, que cantou em uníssono. A grande vencedora foi “Ponteio”, performada por Edu Lobo e Marília Medalha. “Domingo no Parque” e “Alegria, Alegria” ficaram em segundo e quarto lugares, respectivamente, e Elis Regina ganhou o prêmio de Melhor Intérprete com “O Contador”.
O ano de Sgt. Pepper’s
No hemisfério norte, 1967 ficou conhecido como “O Verão do Amor”, em São Francisco. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o mais icônico disco dos Beatles, era lançado e, imediatamente, se tornava um enorme sucesso comercial e o primeiro disco de rock a ganhar o prêmio de álbum do ano no Grammy.
Em 2003, ficou em primeiro lugar na lista dos 500 melhores álbuns de sempre da revista Rolling Stone e, no ano passado, ganhou uma nova mixagem com faixas bônus em comemoração ao seu cinquentenário. No mesmo ano, os Beatles lançaram, ainda, a trilha sonora Magical Mistery Tour, com os clássicos “Hello, Goodbye”, “Strawberry Fields Forever”, “Penny Lane” e “All You Need is Love”.
Uma das marcas registradas do movimento feminista, a regravação de “Respect”, por Aretha Franklin, foi um dos pontos altos na música daquele ano, ocupando por duas semanas o topo da Billboard Hot 100, principal parada musical dos Estados Unidos. Na letra, composta originalmente por Otis Redding, Aretha canta “Tudo que eu estou pedindo / É por um pouco de respeito quando você chega em casa”.
Claro que estas citadas são apenas algumas das principais manifestações culturais no mundo da música em 1967. É praticamente impossível se controlar e abordar pouco o assunto nesse que foi um período muito rico e marcante para a cultura e a sociedade.
Deixo como sugestão um conteúdo complementar: o documentário Uma Noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil, é um excelente registro do III Festival de Música Popular Brasileira, que conta com imagens de arquivo das apresentações e depoimentos dos artistas. E, claro, se você quiser sugerir algum outro documentário, também um livro, ou quiser relembrar algum artista ou canção que não foi abordado aqui, estou à disposição na caixa de comentários.
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