A década: 1960. O país: Estados Unidos da América. O cenário todos conhecem. Contracultura, transformações e experimentações. Bob Dylan, em sua limitada voz, mas grandeza poética, abarcava em belíssimas canções folk representações e reflexões de um novo tempo que prenunciava a sua breve chegada.
É neste contexto e com esta figura que um quinteto californiano emplacou suas atividades musicais, mais especificamente em 1964. O primeiro álbum, Mr. Tambourine Man, lançado no ano seguinte, representa muito bem tudo isso. A icônica canção de Bob Dylan sobre Bob Langhorne, músico que tocou com Dylan em alguns álbuns (e não sobre um traficante, conforme muitos associaram após o filme Mentes Perigosas) ganhou uma versão elétrica e mais enérgica, além de se tornar, como dito, o nome do disco de estreia do grupo.
O tratamento elétrico recebido pela nova versão do clássico de Dylan proporcionou ao grupo a alcunha de detentores e representantes do estilo folk rock. E a nomenclatura cai como uma luva e abrange todo o espectro de difícil definição ao qual o The Byrds se encontrava. A banda transitava entre a folk music e o rock, obviamente, mas também entre o rock psicodélico, o chamado jangle pop (título preconizado pelo grupo também, devido às suas melodias mais intrincadas, ao utilizar, por exemplo, a guitarra de 12 cordas) e o country.
É nesta mescla, mas especialmente em relação ao country, que a banda gravou o sexto disco em 1968, Sweethart of the Rodeo. Hoje um clássico, outrora odiado. Sim, a sonoridade voltada essencialmente ao country gerou inúmeras críticas ao disco do grupo na época, e este permaneceu no limbo por décadas.
The Byrds assumiu a alcunha country que apenas dialogava distantemente com os outros elementos mais evidentes em seus álbuns precursores.
Revisitado recentemente, ainda é um álbum injustamente esquecido, mas o tempo concedeu a maturidade para o compreender e hoje é praticamente impossível renegar a altíssima qualidade da obra.
The Byrds assumiu a alcunha country que apenas dialogava distantemente com os outros elementos mais evidentes em seus álbuns precursores. Em Sweetheart of the Rodeo, a banda não só trabalhou com alguns instrumentos típicos da música caipira americana, como estes ganharam destaque na musicalidade do grupo. Nas 11 canções são usados de forma bela e sem economia banjos, violinos e steel guitars.
Os arranjos são muito bem trabalhados, assim como as dinâmicas vocais. Resultado de uma parceria com Gram Parsons, um pioneiro da country rock music que se uniu ao grupo na época do disco e gravou violão, piano, órgão e vozes.
O álbum traz duas versões de Bob Dylan (fato recorrente na carreira do The Byrds) e covers de canônicos nomes da country music, como Merle Haggard e Luke McDaniel. A sonoridade sulista invadiu de forma irreversível o trabalho dos californianos e resultou em um registro diferenciado que, embora renegado por muito tempo, encontrou sua merecida valorização.
Sweetheart of the Rodeo é uma coleção de belas canções country, muito bem gravadas e produzidas, resultado de músicos e vozes talentosas que proporcionam até hoje ao ouvinte uma viagem bucólica ao coração da cultura hillbilly americana.
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