É muito mais comum as histórias de artistas que saem de seus país em direção aos Estados Unidos para impulsionar sua carreira. JEURU (lê-se Jay-Rue) fez o caminho inverso.
Nascido e criado no Queens, berço do jazz e, juntamente com o Bronx, um dos polos catalisadores da cultura hip hop, ele é uma verdadeira força da natureza. JEURU faz da música e do corpo suas mensagens. Enquanto a primeira é a expressão emocional do músico, seu estilo é o reflexo físico de como ele próprio se vê.
Sua curta carreira, chegando apenas no quarto ano, mostra um artista que parece pronto para brilhar, construindo uma identidade própria para um gênero que pode parecer tão mais do mesmo.
JEURU: do pai abusivo para a Dinamarca
JEURU cresceu com a avó no Queens, mas foi o divórcio de seus pais que fez o primeiro grande impacto em sua vida. Ainda criança, foi viver na Virgínia, ao menos até os 13 anos de idade, quando a vida lhe obrigou a morar com o pai, em Nova York.
Dividir o teto com um homem que assumiu sua faceta mais violenta e homofóbica doeu, mas também lhe forçou procurar entender (e assumir) quem ele era.
JEURU não tem jeito de modelo à toa. Foi assim que começou a ganhar seus primeiros dólares, ao menos até conhecer a designer dinamarquesa Yvonne Koné.
Eles se conheceram durante um trabalho para a marca Rachel Comey, e de repente o futuro músico estava passando o Natal de 2016 em Copenhague, para nunca mais voltar aos Estados Unidos. Ao menos não do mesmo jeito.
Moda e música
Entre a moda e a música, artes que se cruzam e entrelaçam de tantas maneiras, JEURU, que flerta entre Andy Warhol e Rihanna. Traz das ruas uma linguagem que se vê em seus trabalhos, o EP King of the Cruel (2018) e I Wish I Knew Better, seu primeiro álbum completo, lançado em junho deste ano.
Ser diferente do que se conceitua “a cara da arte dinamarquesa” deu ao cantor um espaço muito particular na cena local. JEURU traz a linha sensual do R&B mais contemporâneo, mas também inclui algo sombrio do rap e experimentações da música pop.
Sua curta carreira, chegando apenas no quarto ano, mostra um artista que parece pronto para brilhar.
Essa peculiaridade chamou a atenção dos curadores do festival Roskilde, um dos principais da Dinamarca e da Europa, onde se apresentou em junho deste ano.
Do mesmo modo que influenciou a cena local, foi impactado pela geografia, se levando menos a sério e assumindo um lado mais relaxado. Para alguém que parece viver tanto tempo dentro de sua própria imaginação, o reflexo é nítido e muito interessante.
‘I Wish I Knew Better’ x ‘King of the Cruel’
Por King of the Cruel, JEURU foi extremamente elogiado na imprensa dinamarquesa. Ele era muito estadunidense para a escandinava Dinamarca. I Wish I Knew Better, no entanto, é universal, amplo, quente e sensual. O resultado? Mais elogios.
As diferenças podem ser encaradas como a busca por personalidade artística. O EP de estreia tinha um tanto de expurgo com a cidade natal, com a violência da qual foi vítima. Por isso, foi um disco mais fechado, introspectivo.
Já seu novo álbum é uma expansão. Tem a sensualidade de um Kanye West em 808s & Heartbreak, e a efervescência pop de Rihanna em Loud. Todavia, é único, porque sua contemporaneidade não se esconde em influências.
JEURU não deixa de se olhar no espelho e dialogar com o passado, a infância e a violência que sofreu. Mas concentra isso na introdução do registro. É como se “Nappy Child” condensasse tudo que ele precisava (ou queria) ouvir.
E dali em diante, o disco te abraça, mostra toda a beleza de um artista ainda em fase de descobertas, mas que tem bem claro o tipo de impacto que deseja causar. Agora, não apenas nos dinamarqueses, mas em todo o mundo.
NO RADAR | JEURU
Onde: Copenhague, Dinamarca;
Quando: 2018;
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