Distorção. Violência. Peso. Esses três elementos fizeram – e ainda fazem – do Nine Inch Nails uma das bandas mais famosas de um gênero bastante particular. Desde o lançamento de seu primeiro álbum, em 1989, a banda de Trent Reznor (ou seria apenas Trent Reznor?) buscou nos elementos clássicos do heavy metal a fórmula de seu sucesso.
Nascido Michael Trent Reznor, o vocalista e músico por trás de cada acorde já gravado sob a alcunha de Nine Inch Nails começou sua carreira em Cleveland, cidade para onde foi depois de abandonar a faculdade de engenharia de computação.
Durante a maior parte dos anos 80, Reznor colaborou com uma infinidade de bandas, mas chegou a revelar em entrevista que não conseguiu encontrar músicos que o satisfizessem. Assim, quando conseguiu um emprego em 1987 no estúdio de gravação Right Track, começou a gravar suas demos durante as horas ociosas do estabelecimento. Foi dessa maneira que nasceu Pretty Hate Machine, primeiro álbum da banda, considerado até hoje pela mídia especializada como um trabalho de qualidade absolutamente indiscutível, cuja remasterização e relançamento há 7 anos atrás foi recebida de maneira efusiva.
Sinônimo de estranheza, o Nine Inch Nails sempre foi temido por professores e responsáveis, considerado como uma espécie de porta de entrada para uma vida de vícios, drogas e comportamentos socialmente inadequados. Parte dessa fama sempre se deve ao tipo de som elaborado pelo multi-instrumentista Reznor, que mescla o conceitual ao explícito e elabora álbuns que são verdadeiras viagens de dor, fúria e ódio. Vale lembrar, também, que o tipo de som que Reznor faz há quase 30 anos possui como pioneiro o grupo canadense Skinny Puppy, que jamais caiu nas graças do grande público do mesmo modo que a banda de Ohio.
Cada álbum do Nine Inch Nails é um espaço de experimentação ímpar, no qual até os silêncios e as transições de faixa possuem papel ativo na interpretação do conjunto da obra. Mais ainda do que isso, cada um deles reflete quem é Trent Reznor e qual é a visão para aquilo que o músico considera como seu projeto pessoal mais importante.
Talvez por ter se firmado desde o início como um músico absolutamente independente, Reznor sempre teve problemas com as gravadoras, tendo saído da Interscope, em 2007, e hoje integrando a Columbia como artista independente. Tudo isso colaborou para o músico pudesse se dedicar a explorar as sonoridades que quisesse, sem se preocupar se o resultado seria de fato comercial ou não, apesar de todos os lançamentos terem provado que a banda é de fato palatável e que caiu no gosto do público.
Em dezembro de 2016, a banda lançou um EP surpresa, Not the Actual Events, que não agradou a mídia especializada e que está longe de servir como um exemplo arquetípico de Reznor em sua melhor forma. É quase possível afirmar que se trata de um trabalho burocrático, a banda voltando de mais um de seus inúmeros términos (ou intervalos, talvez), colocando outra vez em prática as influências de synth pop e heavy metal que a tornaram o refúgio favorito dos melancólicos raivosos.
Com um som muito mais espesso do que seu antecessor, Add Violence lembra, sem excesso de nostalgia, faixas que fizeram o sucesso da banda.
Para não dizer que se trata de uma total perda de tempo, a hipnótica faixa “She’s gone away” lembra as sonoridades exploradas em The Fragile, ponto alto da discografia do Nine Inch Nails. Foi também essa mesma faixa que recentemente a banda tocou em um episódio particularmente sombrio da série Twin Peaks, de David Lynch, amigo de Reznor e com quem o mesmo vem colaborando desde os anos 90.
Se Not the Actual Events talvez não tenha tido a repercussão que Reznor esperava, o mais recente EP da banda, Add Violence, lançado há cerca de uma semana, faz parte de uma trilogia que será completada até dezembro desse ano, conforme o músico revelou em entrevistas.
Com um som muito mais espesso do que seu antecessor, Add Violence lembra, sem excesso de nostalgia, faixas que fizeram o sucesso da banda como “Terrible Lie” e “Starfuckers, inc”. Apesar da energia, as cinco faixas que compõem a compilação estendida soam suficientemente sombrias e hipnóticas, como é o caso de “The background world”, que fica no meio do caminho entre a trilha de um filme de David Lynch e os esquecidos ruídos produzidos pelos desktops defeituosos de repartições públicas.
Tudo no som produzido por Reznor sempre foi marcado pela violência, pela fúria, pela crítica feroz ao regime vigente, pela energia que investimos apenas para estarmos vivos. A experiência de ouvir Nine Inch Nails, o incômodo e o desconforto gerado pela dissonância gritante, pelos vocais ora sussurrados ora gritados, é uma das coisas que mais se aproxima à emulação da experiência de estar vivo. O estar no mundo do capitalismo pós-industrial é desconfortável, doloroso e a cada dia tudo que resta são ruínas. E Trent Reznor segue fazendo música com essas ruínas. Espera-se que por muito tempo.