Sou fã sem medida de Marcelo Costa. Tem mais de uma década que acompanho seu trabalho com jornalismo cultural, e ele continua sendo uma fonte contínua de inspiração. Esta coluna é batizada com o nome de um projeto do Mac, e o texto de hoje também é uma homenagem a um texto dele de quase 12 anos atrás. Neste texto (que você pode ler na íntegra clicando aqui), Marcelo (pela graça da vida, hoje um amigo) revisita a cena curitibana de 1993 (os “Novos Vampiros”) para apresentar uma nova sofra de artistas.
Indiscutível a frase, e por isso decidi trazê-la de volta à tona. Em três anos de Curitiba, aprendi um bom tanto sobre a cena local, mas talvez a lição mais dura tenha sido que, por vezes, parece que se dá mais importância à cena curitibana fora de seus limites do que na própria cidade.
Naqueles textos, Marcelo falava de grandes projetos, ao menos para quem vivia em São Paulo (como eu) e enxergava na neblina curitibana a possibilidade de um novo gás para o gênero em âmbito nacional. Aliás, eu nunca compreendi muito bem a urgência dos artistas, em especial nos últimos 15, 20 anos, em se mandarem para São Paulo como se lá fosse uma terra prometida. Enfim, a questão não é criticar quem por ventura tenha feito isso.
Por vezes, parece que se dá mais importância à cena curitibana fora de seus limites do que na própria cidade.
Do pop experimental do Wandula (como esquecer o disco homônimo de 2002?) ao experimentalismo das paisagens sonoras da Poli, que deixou dois disco e uma fita demo rara. Seu disco homônimo entrou na lista de melhores da revista Bizz, indicado pelo “reverendo” Fábio Massari, mostrando como o trabalho era conceitual e à frente do seu tempo (outros grupos seguiriam o mesmo rumo, mas alguns anos depois).
https://www.youtube.com/watch?v=VtaYcANdFig
Da Poléxia e seu incrível O Avesso (2004) ao Terminal Guadalupe, passando pela Pelebrói Não Sei? e pela Relespública (os sobreviventes da geração “Novos Vampiros”), Curitiba é versátil na arte de oferecer música de qualidade. Glowing (2009), da Pancadas Esparsas, foi um disco que, entre o final de 2009 e início de 2010, foi tocado muitas vezes, inclusive em reuniões com amigos de bandas paulistanas. Sim, a gente se reunia para saber o que a terra de Leminski andava aprontando. Os riffs de “Where the Truth Begins (Since I Died)” e sua linha de baixo frenética foram motivos de dissertação.
Los Diaños e seu jazz-punk-hardcore eram surpreendentes. Lembro deles participando do extinto Banda Antes, programa da também extinta (ao menos como canal aberto) MTV Brasil. Um jazz irônico, como a própria cidade, e que hoje só conseguimos resgatar em vídeos no YouTube ou nos CDs escondidos nas gavetas de casa. Deixe o Suicídio pra Amanhã, como nas palavras de Marcelo Costa, era um álbum potente, um chute na porta do night club.
A Criaturas era outra que visitava meus tímpanos. O EP Lugares Comuns (2005) também tinha aquela ironia típica da “Terra das Araucárias”. Músicas como “Bianca” e “Como Eu Entendo o Amor” carregavam influências tão distintas, como o pop inglês e o RockBR, o que rendia ao grupo o rótulo de “rock regressivo”. Enquanto isso, Giovanni Caruso e cia, antes da potente Escambau, seu trabalho atual, eram rock cru, sem modismos ou firulas. A reunião do grupo em julho do ano passado, em comemoração dos 10 anos de Indecente, Imoral e Sem Vergonha, deixou um gosto de quero mais (ou voltem para ficar).
Mordida, Os Dissonantes, Cores D Flores, OAEOZ, Sofia… A verdade é que daria para citar tantos artistas que nos últimos 15 anos ou mais eu ouvi à distância, rezando por um show em solo paulista, que este texto provavelmente não teria fim. E com o tempo esta lista irá aumentar, parte pelo tempo, pelas responsabilidades que se acumulam ou pela vida que apresenta às pessoas rumos diferentes.
Acredito que, talvez, este texto seja tão importante quanto falar sobre um artista atual. Não porque eu me agarre ao passado, longe disso, mas acredito que ele é uma forma indispensável à compreensão do nosso presente. Acredito, ainda, que ele é uma lição importante aos artistas que hoje fazem isso que chamamos de “cena curitibana”. Aprender com quem já passou perrengues, com quem já enfrentou esse duro mundo da música abaixo da linha do Equador, é importante. Uma lição valiosa sobre a importância da unidade, da aproximação, para que nos próximos 15 anos não continuemos lendo reportagens e entrevistas com nossos excelentes músicos dizendo quão frágil, fragmentada e desunida é nossa cena local. Tampouco condicionemos o sucesso a um contrato com uma gravadora major, porque, desculpe, mas isso não é nem de longe um indício de sucesso.
Sem dúvida que eu deixei de citar muita gente no texto, puro esquecimento e zero juízo de valor. Que tal ajudar a relembrar essa turma deixando um comentário? O rock sempre renasce em Curitiba. E sempre renascerá.