Um dos grandes símbolos da MPB, Gilberto Gil comemora 76 anos de idade neste ano e, como bom canceriano, quem ganha o presente somos nós, com o lançamento do seu disco Ok, Ok, Ok. São 15 faixas inéditas, produzidas por seu filho, Bem Gil, que contam com mais de 30 participações, entre elas muitos músicos da família Gil e os mestres João Donato, em duas faixas, Yamandu Costa (“Yamandú”) e Roberta Sá, intérprete em “Afogamento”.
Gil não lançava um disco com músicas inéditas há oito anos, e esse álbum é um dos mais autobiográficos e afetivos da carreira do compositor. Em 2016, ele teve sérios problemas de saúde e ficou internado diversas vezes, por isso o álbum versa muito sobre a sua superação e também sobre o grande carinho e apoio que recebeu dos médicos, da família e dos amigos.
O álbum também tem um lado político. A letra de ‘Ok, Ok, Ok’, que nomeia o disco, mostra um Gil que não aguenta mais discursos de ódio e a falta de tolerância relacionada ao pluralismo de ideias.
Em matéria divulgada no site de Gil, ele conta que fez “músicas sobre relações nevrálgicas com filhos, netos, amigos e aproximações mais recentes, como os médicos. Passei pela primeira vez por um período no qual a medicina teve de me dar assistência. No disco novo também canto ‘Jacintho’, que é ligada à minha doença. A letra diz que já sinto aqui na barriga a bexiga mais preguiçosa, os rins mais ociosos, já sinto no meu peito sinais de defeito, coração, pulmões e afins”.
Nesse contexto de afetividade e acolhimento, Gil dedica 13 músicas a quem esteve ao seu lado nesses momentos difíceis. Entre elas, duas canções são dedicadas à sua mulher, Flora (“Na real” e “Prece”); “Yamandú”, ao violonista Yamandu Costa; aos seus netos em “Sereno”; e aos médicos responsáveis por tratar da sua saúde, em “Kalil” e “Quatro Pedacinhos”.
O álbum também tem um lado político. A letra de “Ok, Ok, Ok”, que nomeia o disco, mostra um Gil que não aguenta mais discursos de ódio e a falta de tolerância relacionada ao pluralismo de ideias. A música é um desabafo, visto que Gil, devido ao seu histórico ativista contra a ditadura militar de 1964, é constantemente alvo de ódio nas redes sociais e cobrado por se posicionar politicamente. Quanto a essa cobrança, ele deixa claro na letra que não quer ser visto como um herói, pois não precisamos de um herói, mas sim da sociedade como um todo trabalhando para o bem comum.
Para fechar o álbum, Gil nos presenteia também com a faixa “Pela Internet 2”, versão atualizada da música lançada em 1996, “Pela Internet”. A canção original fez parte de um feito na indústria fonográfica brasileira, visto que Gil a apresentou durante o primeiro show transmitido ao vivo por um brasileiro na internet.
https://www.youtube.com/watch?v=15Q0aUu24gc
A nova versão tem a mesma base instrumental da original, mas a nova letra dá menos espaço a apologia à internet e mostra como estamos perdidos em meio a tanta informação. Como diz Gil: estamos presos na rede, que nem peixe pescado.