Poucas vezes se produziu tanto rock em suas vertentes mais pesadas com tanta qualidade no Paraná como nos últimos 5 anos. O que talvez tenha mudado bastante neste tempo seja nossa capacidade (e interesse) em olhar quilômetros além de Curitiba.
Com um EP recém-lançado, a maringaense Mind Reverse entra nesta safra com o homônimo Mind Reverse, primeiro disco do quarteto formado por Eduardo Curti, Gabriel Hernandes, Guilherme Antunes e Guilherme Silva. Nas oito faixas que compõem o álbum, elementos de rock progressivo se cruzam com o blues rock, heavy metal, hard rock e doom metal, criando uma liga instantânea entre os riffs cortantes de Gabriel e a cozinha harmoniosa dos xarás.
Mind Reverse não é só repleto de boas influências, mas também propõe uma sonoridade mais complexa para vertentes que por anos se viram marcadas pelo descrédito da crítica especializada. O disco soa refinado, ditando uma assinatura para o quarteto com seu heavy-blues-rock-progressivo, oferecendo um conjunto consistente de músicas e alguns riffs realmente memoráveis, a maioria dos quais permanecem gravados na mente do ouvinte.
Se ainda há quem considere o peso do rock uma rotina de distorções sem rumo, a Mind Reverse oferece foco e direção, implacavelmente obscuros, mas incrivelmente sinceros e pouco miméticos. A Mind Reverse destrói as barreiras da alucinação que é estar vivo nesta confusão chamada realidade evocando uma música crua e direta no discurso, porém riquíssima sonoramente.
Se ainda há quem considere o peso do rock uma rotina de distorções sem rumo, a Mind Reverse oferece foco e direção, implacavelmente obscuros, mas incrivelmente sinceros e pouco miméticos.
Um grande fruto que um trabalho assim origina é a capacidade de que suas qualidades ecoem de forma a desmistificar que a música pesada é simplória – como apontam alguns críticos mordazes. Há, sim, uma simplicidade técnica nos vocais de Curti, que chega em alguns momentos a soar como um André Matos jovem, mais grave e com menos falsetes que o ex-vocalista do Angra, mas esta característica não é, em nada, negativa. De forma semelhante, o leque de variações que a guitarra e o baixo apresentam dão o toque da falta de sutileza característica do gênero – e, de certa forma, essencial à sua formatação.
Ainda que volta e meia uma nota sobre aqui ou ali, tudo, no fim, se alimenta da soma de todas as partes instrumentais, exigindo do grupo uma entrega tão grande que ela supera as pequenas imperfeições de Mind Reverse. Monolítico, poderoso e abrasivo, disco e banda nos dão a oportunidade de redefinir nossas convenções sobre este estilo mais pesado de rock and roll.
Ao fim e ao cabo, novamente um trabalho que nos faz lançar olhos ao Norte do Paraná, região que nos últimos anos tem entregado alguns dos melhores discos feitos no estado. Não faltam bons motivos para desbravar as bandas da região, e se você ainda não fez isto, a Mind Reverse é um ótimo início.