Pouco mais de um ano e meio depois, o Projeto Chumbo, dos irmãos Flávia Plombon e Paulo Plombon, chega ao seu segundo disco completo, Vidas Leais. Este é o primeiro fruto da parceria com Rick Bonadio. Com uma produção impecável, o registro marca não apenas uma evolução da dupla em relação ao irregular Era Isso Desde o Início, mas com a afirmação de qual a identidade sonora, estética e lírica do grupo curitibano.
Em Vidas Leais, o Projeto Chumbo não abandona o flerte com o neo-indie, mas se esforça em evitar composições efêmeras, blasé. Neste novo momento, Flávia e Paulo trilham um caminho mais associado a trabalhos como de Tiago Iorc e do duo Anavitória, mas fazem isso direcionando sua música a um público mais jovem – se a música do duo curitibano fosse literatura, seria uma obra entre o infantojuvenil e o young adult.
Essa mudança, talvez até despretensiosa, é muito positiva ao grupo. O novo registro dialoga com propostas voltadas a um mesmo público, como de Adriana Calcanhotto (Adriana Partimpim) e do Pato Fu (Música de Brinquedo). Ao invés daquele distanciamento irônico da realidade, Vidas Leais é um mergulho gostoso em uma forma menos pretensiosa de encarar a música, a vida e nossa relação com o mundo. A maior virtude, no entanto, é fazer tudo isso de forma autoral, sem buscar mimetizar uma sonoridade em desconexão com suas próprias carreiras.
O novo registro dialoga com propostas voltadas a um mesmo público, como de Adriana Calcanhotto (Adriana Partimpim) e do Pato Fu (Música de Brinquedo).
O Projeto Chumbo investe na variedade de repertório, construindo uma obra linear, sem vacilar em mudanças bruscas nas faixas que compõem o álbum. O disco é melhor planejado que o anterior, tratando o público com mais respeito e optando por arranjos mais caprichados. Mesmo sem grandes experimentações ou ousadias, os Plombon parecem ter encontrado uma veia artista que possa verdadeiramente refleti-los – o que, convenhamos, muitos artistas com mais tempo de carreira passam a vida procurando e não encontram; ponto para dupla.
Se cada álbum de um artista representa uma fase de sua trajetória profissional, é possível afirmar que Vidas Leais é a curva de amadurecimento do duo curitibano. Até seu potencial comercial é bem arregimentado, calculado. É uma tradução de maturidade até certo ponto complexa, adultos fazendo música de gente grande sem caretismos, apostando na delicadeza de riffs e timbres para desafiar os ouvidos mais acostumados às ironias cotidianas.
Não há dúvidas de que a presença de Bonadio é fundamental ao resultado obtido pelos irmãos em seu segundo disco, mas também não dá para deixar passar em branco que a qualidade dos dois músicos existia, ainda que tenha se escondido naquele não-estado das coisas de seu primeiro LP. Ao fim e ao cabo, Bonadio lapidou uma pedra bruta. Bom para Flávia e Paulo, bom para os fãs, excelente para a cena local.