Fazer sucesso como músico ou empreender uma jornada de sucesso como artista pode parecer que é apenas uma questão de talento ou força de vontade, mas, na verdade, [highlight color=”yellow”]é muito mais do que isso.[/highlight] Para cada álbum que chega aos ouvidos do público, há uma gama infinita de produtores, empresários, agentes, pessoas que buscaram e/ou entraram em contato com aquele ou aqueles indivíduos enquanto a banda ou o artista não passava de um desconhecido e acharam, por um motivo qualquer, que aquilo merecia chegar aos ouvidos do grande público.
Ironicamente, todos aqueles que trabalham nos bastidores e que colaboram diretamente para o sucesso de muitos artistas jamais chegam a ser conhecidos do grande público. Um desses casos é o de Michael Alago. Tema do documentário Who the f**k is that guy?, disponível na Netflix, Alago é um porto-riquenho nascido no Brooklyn, que ficou ligeiramente conhecido como sendo o responsável por ter feito com que bandas como o Metallica e o White Zombie chegassem à fama.
O documentário tem vários méritos. O primeiro deles é dar voz ao próprio Michael, uma figura simpática e falante, que conta com riqueza de detalhes sua adolescência e como ingressou no mundo da música. As memórias que envolvem os meados dos anos 70, o Max’s Kansas City, casa que rivalizava com o lendário CBGB e como o ainda menor de idade Michael Alago circulava com desenvoltura ao lado de Cherry Vanilla e como a criatividade pulsava, por si só, já compensariam a uma hora e pouca de filme. Somado a isso, ainda há o depoimento de personalidades como Cindy Lauper, Rob Zombie e outros empresários de destaque do ramo musical.
A trajetória relativamente rápida de Michael Alago, que vai de “booker” (pessoa que cuida da agenda de uma casa de shows) a um cargo de A&R da Elektra Records (artistas e repertório, um cargo no qual a pessoa não apenas recomenda aos artistas que músicas gravar, como também fica encarregada de encontrar novas bandas) é uma atração à parte. Como qualquer um que é minimamente obcecado por música, chama atenção o fato de que Alago jamais cogitou ser músico. Ele sempre quis fazer parte do show business e seu gosto musical diverso ajudou-o nesse percurso. Mais ainda, como alguém que hoje pode ser considerado como parte da história do rock and roll, sua narrativa pessoal se confunde com história de bandas como Metallica, no que talvez seja um dos pontos altos do documentário.
A trajetória relativamente rápida de Michael Alago, que vai de “booker” a um cargo de A&R da Elektra Records, é uma atração à parte.
Alago conta como recebeu a primeira fita demo da banda e a repercussão que essa estava tendo entre os jovens. Há também o relato do primeiro grande show que a banda fez em Nova York, ao lado do Anthrax, com Cliff Burton. Numa época em que a internet ainda não existia como meio de divulgação musical, as fitas cassetes eram copiadas e passadas de mão em mão, até que caíssem não apenas nas graças do público, mas na mesa de alguém como Michael Alago.
Como qualquer documentário sobre música que não seja necessariamente focado em um artista, Who the f**k is that guy? também serve como um interessante retrato do funcionamento da indústria fonográfica, lançando luz sobre o processo de contratação e como de fato é a mecânica que leva ao estrelato, coisa que frequentemente cai no esquecimento quando a banda ou o artista se torna famoso.
Ao ser diagnosticado com HIV, Michael Alago foi levado a uma mudança radical em sua vida e acabou decidindo se dedicar à fotografia, coisa que ainda faz atualmente.
A narrativa da vida de Michael Alago é, antes que qualquer coisa, a história de um sobrevivente, de uma pessoa que nunca teve medo de ser fiel a sua personalidade, que se dedicou integralmente à música e que inscreveu seu nome no hall da fama da mesma maneira que muitos artistas. Mais do que interessante, o documentário se converte em uma homenagem de muitos dos artistas que chegaram ao estrelato graças a ele e também no retrato de uma das épocas mais prolíficas e criativas da música.