Na busca por construir uma sonoridade que represente uma espécie de transcendência musical, os dinamarqueses do Mythic Sunship partem da união de títulos de discos de gênios do jazz como John Coltrane e Sun Ra para chegar em um lugar onde o rock é uma ferramenta nesta jornada do grupo.
Em seus lançamentos, todos curtos em números de faixas, mas longos se levarmos em consideração a duração de cada uma delas (muitas acima de dez minutos), encontramos doses de psicodelia flertando com o peso do stoner e a complexidade do math rock. Resultado? Pura selvageria. Contudo, não uma selvageria onde o caos é a regra (ao menos não o caos cósmico do jazz, por exemplo), mas em que os fortes laços criados entre esses gêneros tão marcados por seus riffs característicos formam um barulho vanguardista.
Há conceitos muito bem delimitados em cada um de seus EPs, que permeiam cada uma das faixas numa espécie de ópera narrativa. Em poucos minutos você se vê amarrado a esta força que surge não se sabe muito bem de onde e que arrebata nossos tímpanos e cada centímetro do corpo, levando o ouvinte a uma espécie de nirvana. A conexão entre a banda e o público, aliás, é peça-chave nesta engrenagem sonora.
Seu mais recente trabalho, Upheaval, lançado em janeiro deste ano, mantém a Mythic Sunship em uma rota ascendente. O quarteto de Copenhague tem êxito em refinar e aprimorar a forma contundente com que criam paisagens sonoras precisas e excitantes.
A partir do primeiro riff se nota como eles prezam a intensidade em suas composições, algo que também se espalha na entrega em cima do palco, o que não significa dizer que as músicas da banda não possuem nuances ou dinâmicas.
Marca também de sua trajetória, o ouvinte não deve esperar sutilezas do quarteto dinamarquês. A partir do primeiro riff se nota como eles prezam a intensidade em suas composições, algo que também se espalha na entrega em cima do palco, o que não significa dizer que as músicas da banda não possuem nuances ou dinâmicas. Do primeiro registro de 2016, o monolítico Ouroboros, até o recente Upheaval, também encontramos o excelente Land Between Rivers, todos lançados num período menor que dois anos.
O recente disco é o mais pesado de todos, apresenta uma dupla de guitarras que oferecem uma base bastante sólida, sem recorrer a virtuosismos exagerados. Essa consciência de que a guitarra é uma arma artística torna muito mais valoroso o resultado obtido pelo quarteto. Cada camada das faixas oferece brutalidade, fúria e reflexão, grooves, post-rock e punk, rendendo à banda e sua sonoridade uma identidade única – alguma dúvida de que o rock ainda pode surpreender?
Não é raro que a proficuidade de artistas esgote sua criatividade, secando uma fonte que não funciona como um botão que se liga e desliga, ficando criativo no momento em que se desejar. Arrisco, sem medo de errar, que este não parece ser o caso da Mythic Sunship. A esperar os petardos que vêm pela frente.
NO RADAR | Mythic Sunship
Onde: Copenhague, Dinamarca.
Quando: 2010.
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