Rico Dalasam é uma das mentes mais criativas na cena hip-hop brasileira. Arriscaria dizer mais: Rico é um dos músicos mais necessários no Brasil de 2016. O rapper paulista, nascido em Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo, é uma paleta infinita de cores em um gênero ainda marcado pelo machismo e pela homofobia. É bem verdade que isso vem mudando. O curitibano Fantoxi, por exemplo, ousou ao abordar a violência contra a mulher em seu último disco. Foi um passo pequeno, mas que não passou despercebido.
Entre samples mais pesados e referências melódicas de Daniela Mercury, Dalasam tempera tudo com uma audácia que pouco se vê.
Contudo, o passo dado por Rico Dalasam é maior e mais ousado. Prestes a lançar seu primeiro álbum completo, o rapper fez de seu EP Modo Diverso um marco no hip-hop, além de marcação de território. Ao contrário de Rashid, Projota e Emicida, seus contemporâneos, ele deixa de lado a violência policial, racial e a “vida loka” para abordar questões de gênero, aceitação e agitação.
A sonoridade do músico, que se apresenta na próxima sexta (13) no Teatro Paiol, no projeto Brasis no Paiol, é ímpar. Entre samples mais pesados e referências melódicas de Daniela Mercury, Dalasam tempera tudo com uma audácia que pouco se vê. As batidas são dançantes, contagiantes, mas levam consigo discussões de suma importância em suas rimas.
Tudo nele transpira estar à margem: rapper, gay, negro. “O rap e a igreja são parecidos. Eles sabem (da sua sexualidade), mas não comentam”, observou o músico em papo com o jornalista Tiago Dias. A forma como o cantor usa a ferveção como ritmo de seu protesto encanta. Ele não é didático, ao contrário. Rico é cru, direto, sem abusar de figuras de linguagem o rapper lança a ideia: empodere-se, aceite-se, ame-se.
Porta-voz de um discurso “repleto de orgulho do que se vive e do que se é”, como o próprio músico afirma, ele canta sobre a aceitação de sua própria sexualidade e suas primeiras paixões (“Não Posso Esperar”). Talvez o que dê um tom muito peculiar à sua forma de fazer política seja, justamente, esse gene quente que o domina, a ponto de usar “O Mais Belo dos Belos”, canção marcante na voz de Daniela Mercury e nos tambores do grupo baiano Ilê Ayiê, como base para o sample de “Aceite-C”, já um hino dentro do queer rap no Brasil, que ainda dá seus primeiros passos por aqui.
O movimento não foge a levantar bandeiras sobre sexismo e questões raciais ao mesmo tempo, tampouco Dalasam. Se o rap ainda representa homens e mulheres em papéis bem definidos e, geralmente, estereotipados, Rico Dalasam quebra barreiras, usando o que melhor tem: sua rima, um microfone e muitas batidas quentes. Talvez o rap nunca tenha exercido tanto sua vocação como com Dalasam.
Rapper faz show em Curitiba
Rico Dalasam vem a Curitiba para se apresentar no projeto Brasis no Paiol. Seu show acontece nesta sexta, 13, a partir das 20h, no Teatro do Paiol.
SERVIÇO | Rico Dalasam no Paiol (acesse o evento no Facebook)
Onde: Teatro do Paiol – Praça Guido Viaro, s/nº;
Quando: 13 de maio, sexta, às 20h;
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada);
Onde comprar?: (somente dinheiro) – bilheteria do Paiol, terça a sexta, das 13h30 às 19h; sábado e domingo, das 15h até o horário do evento – e Restaurante Mezanino das Artes (Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 805), segunda a sábado, das 11h30 às 23h;
Realização: Santa Produção.
NO RADAR | Rico Dalasam
Onde: Taboão da Serra, São Paulo.
Quando: 2014
Contatos: Facebook | Twitter | YouTube | Instagram | SoundCloud
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