Em janeiro deste ano, o G1 fez uma matéria sobre o que eles chamam de “efeito Pabllo Vittar”, reunindo 10 cantoras do cenário LGBT, entre drags e trans, que seriam apostas para 2018. A lista incluía Linn da Quebrada, Mulher Pepita e Gloria Groove.
Sobre a reportagem, Linn da Quebrada escreveu um texto em suas redes sociais, falando sobre como a matéria dá a entender que uma cena musical LGBT só surgiu a partir do sucesso de Pabllo e com as outras tentando surfar nessa onda. Vale a pena ler o relato de Linn, pois sua fala é sobre a importância de se olhar para as manas que vem nessa corrida há muito tempo, sempre à margem, buscando seu espaço na marra. Um desses nomes é MC Xuxú, que lança agora seu primeiro disco, Senzala, trabalho que saiu no dia 29 de janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans.

Produzido após um crowndfunding, Senzala coroa uma carreira longa iniciada ainda no rap e que ganhou notoriedade nacional com a canção “Um beijo”, do refrão pegajoso “um beijo pras travestis”. Nesses últimos anos, Xuxú lançou faixas como “Bonde das Travestis” e “Eu fiz a chuca”, canções de base funk, mas com a verve mais politizada do rap.
MC Xuxú é uma militante LGBT e é isso que se reafirma em seu disco de estreia. Suas canções são pop e dançantes, mas sempre construídas através de sua vivência e experiência como uma mulher trans e negra no Brasil, o país que lidera dois rankings distintos: o de maior número de assassinatos de pessoas trans e o que mais pesquisa por vídeos de transexuais no site pornô RedTube.
Faixas como “Kit Assume” e “Senzala” são reflexivas dessa realidade das transexuais brasileiras. “Kit Assume” é cantada ao lado do furacão Mulher Pepita e fala sobre os dois tipos de homens que surgem na vida de uma travesti: aqueles que te assumem na luz do dia e aqueles que apenas pagam por sexo. Já a música título do álbum traz os fortes versos “Mulher de peito, pau e seu conceito não me abala / Eu sou favela, sei do brilho da senzala”.
Senzala é um disco que fala sobre a comunidade LGBT e busca a união dos integrantes dessa bandeira.
Com participações de Danny Bond, Caetano Brasil, Ingoma, Jovem Saga e RT Mallone, Senzala é um disco que fala sobre a comunidade LGBT e busca a união dos integrantes dessa bandeira, como em “O Clã 2.0”, em que Xuxú chama “as gay, as bi, as trans e as sapatão” para arrastar a bunda no chão e fazer a revolução. Além dessas, destacam-se “Vingancinha”, “Liberdade” e “Missa”, faixas de composição direta que mesclam a força de rapper de MC Xuxú com o seu bom humor trazido do funk.
Apesar de diferentes qualidades, é bem provável que Senzala não expanda o trabalho de MC Xuxú para além dos espaços de nicho. E a gente sabe muito bem o quanto de preconceito tem nisso tudo. Pabllo Vittar, a grande estrela LGBT nacional no momento, é todo dia atacada de diferentes formas, por pessoas que tentam deslegitimar seu trabalho; considerando-se, claro, o fato de que as canções dela são mais universais. MC Xuxú, por outro lado, trabalha sob sua experiência e isso ainda é muito incômodo para pessoas que tentam a todo momento negar a existência das mulheres trans. Por isso tudo, Senzala é um disco pop, dançante e alegre, mas acima de tudo isso é um trabalho de resistência, que diz “vamos viver sim, vamos colocar nosso peito e seremos felizes!”.
Ouçam MC Xuxú com a atenção que ela merece e façamos suas voz reverberar!