Em janeiro deste ano, o G1 fez uma matéria sobre o que eles chamam de “efeito Pabllo Vittar”, reunindo 10 cantoras do cenário LGBT, entre drags e trans, que seriam apostas para 2018. A lista incluía Linn da Quebrada, Mulher Pepita e Gloria Groove.
Sobre a reportagem, Linn da Quebrada escreveu um texto em suas redes sociais, falando sobre como a matéria dá a entender que uma cena musical LGBT só surgiu a partir do sucesso de Pabllo e com as outras tentando surfar nessa onda. Vale a pena ler o relato de Linn, pois sua fala é sobre a importância de se olhar para as manas que vem nessa corrida há muito tempo, sempre à margem, buscando seu espaço na marra. Um desses nomes é MC Xuxú, que lança agora seu primeiro disco, Senzala, trabalho que saiu no dia 29 de janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans.
![Senzala MC Xuxú Senzala MC Xuxú](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/02/26903771_991125627706166_1710853640764757650_n-300x300.jpg)
Produzido após um crowndfunding, Senzala coroa uma carreira longa iniciada ainda no rap e que ganhou notoriedade nacional com a canção “Um beijo”, do refrão pegajoso “um beijo pras travestis”. Nesses últimos anos, Xuxú lançou faixas como “Bonde das Travestis” e “Eu fiz a chuca”, canções de base funk, mas com a verve mais politizada do rap.
MC Xuxú é uma militante LGBT e é isso que se reafirma em seu disco de estreia. Suas canções são pop e dançantes, mas sempre construídas através de sua vivência e experiência como uma mulher trans e negra no Brasil, o país que lidera dois rankings distintos: o de maior número de assassinatos de pessoas trans e o que mais pesquisa por vídeos de transexuais no site pornô RedTube.
Faixas como “Kit Assume” e “Senzala” são reflexivas dessa realidade das transexuais brasileiras. “Kit Assume” é cantada ao lado do furacão Mulher Pepita e fala sobre os dois tipos de homens que surgem na vida de uma travesti: aqueles que te assumem na luz do dia e aqueles que apenas pagam por sexo. Já a música título do álbum traz os fortes versos “Mulher de peito, pau e seu conceito não me abala / Eu sou favela, sei do brilho da senzala”.
Senzala é um disco que fala sobre a comunidade LGBT e busca a união dos integrantes dessa bandeira.
Com participações de Danny Bond, Caetano Brasil, Ingoma, Jovem Saga e RT Mallone, Senzala é um disco que fala sobre a comunidade LGBT e busca a união dos integrantes dessa bandeira, como em “O Clã 2.0”, em que Xuxú chama “as gay, as bi, as trans e as sapatão” para arrastar a bunda no chão e fazer a revolução. Além dessas, destacam-se “Vingancinha”, “Liberdade” e “Missa”, faixas de composição direta que mesclam a força de rapper de MC Xuxú com o seu bom humor trazido do funk.
Apesar de diferentes qualidades, é bem provável que Senzala não expanda o trabalho de MC Xuxú para além dos espaços de nicho. E a gente sabe muito bem o quanto de preconceito tem nisso tudo. Pabllo Vittar, a grande estrela LGBT nacional no momento, é todo dia atacada de diferentes formas, por pessoas que tentam deslegitimar seu trabalho; considerando-se, claro, o fato de que as canções dela são mais universais. MC Xuxú, por outro lado, trabalha sob sua experiência e isso ainda é muito incômodo para pessoas que tentam a todo momento negar a existência das mulheres trans. Por isso tudo, Senzala é um disco pop, dançante e alegre, mas acima de tudo isso é um trabalho de resistência, que diz “vamos viver sim, vamos colocar nosso peito e seremos felizes!”.
Ouçam MC Xuxú com a atenção que ela merece e façamos suas voz reverberar!